sexta-feira, 1 de junho de 2012

6) Como surgiu o Vice-Presidente da Fundação dos Funcionários da VARIG, hoje Fundação Ruben Berta.

Varig 1955 - Portaria 1

A Fundação não tinha Vice; somente Presidente, que era, desde 1945, Ruben Berta. A cada fim de mandato reunia-se o Colégio Deliberante que votava (um voto para cada ano de serviço) elegendo o novo (ou o mesmo) Presidente. Aproximava-se uma dessas eleições e um grupo de Comandantes insatisfeitos com a administração de Berta por razões de salários e outras, iniciou uma campanha entre os membros do Colégio para que não re-elegessem Berta.Em lugar dele, esse grupo queria que eu me candidatasse. Fui procurado várias vezes por representantes do grupo dissidente, que insistiam em minha candidatura.

Eu, porem, era amigo de Berta, homem de sua confiança, e considerava minha eventual candidatura como uma traição ao chefe e amigo, que eu considerava o homem certo para presidir a FFV e, portanto a própria VARIG, já que a FFV era a dona da RG, com mais de 50% de suas ações. Quem presidisse a FFV seria automática e necessariamente o Presidente da RG.

Assim sendo, não aceitei minha candidatura e disse ao grupo dissidente que contaria tudo a Berta, sem citar os nomes dos revoltosos, o que fiz logo em seguida. Berta ficou pasmo, pois não esperava essa reação de seus comandados,. E não sabia bem o que fazer, já que numa pesquisa que fiz parecia que a maioria dos membros do Colégio votaria mesmo em mim.

Finalmente ocorreu a eleição e, como esperávamos, Berta foi re-eleito e eu para Vice. Em conseqüência, fui eleito em Assembléia da RG seu primeiro Vice-Presidente. Com isso tive que abandonar minhas atividades em POA na área do treinamento, e mudar-me para o Rio onde a alta administração da VARIG já funcionava. A empresa alugara uma sala num prédio situado na esquina da rua Santa Luzia com avenida Rio Branco, e lá trabalhavam às vezes Berta e Érik de Carvalho, ex-diretor da Panair do Brasil que Berta contratara devido à sua experiência e qualidades.

Eu deixara a família em POA enquanto não decidia bem onde moraria. Nesse ínterim ocupava-me do que havia para fazer, até que, num determinado momento houve uma alteração em meus planos. Havia em SAO um consórcio de empresas chamado Real, liderado pela empresa do mesmo nome sob a Presidência de um antigo aeronauta chamado Lineu Gomes. Uma das empresas do Consórcio era a Aerovias Brasil, criada ao fim da guerra e que fora comprada por Lineu. A Aerovias começara com linha internacional Rio-Miami-Chicago em aviões DC-3 que faziam várias escalas pelo caminho, levando alguns dias para chegar a Miami. Após alguns anos a empresa estava quase falida e Lineu a comprara, mas antes disso, quando a Aerovias ainda era independente, Lineu trabalhara como co-piloto na mesma. Com o fim da II guerra e a venda de aviões DC-3, um companheiro de Lineu comprou um desses aviões, mas eram ele e Lineu adeptos dos jogos de cartas, um dia Lineu ganhou num jogo de poker, o avião que o outro comprara e com ele fundou a REAL, uma companhia que começou modestamente voando no interior de São Paulo, mas que, com trabalho, visão e dedicação, tornou-se logo numa empresa grande, rival da VARIG, que incorporara a Aerovias, e duas outras pequenas empresas do norte.

Logo após a compra pela VARIG de dois Super Constellation G e a inauguração da linha Rio-NYC, a REAL, nossa rival, comprou também dois Super, porem do modelo H que podia ser transformado em cargueiro, com portas largas e soalho reforçado. Com esses aviões e com a ânsia de emular ou até sobrepujar a VARIG, Lineu conseguiu licença para voar de SAO a Tóquio, numa viagem que demorava horrores, quando a PAA e outras já voavam no Pacífico com jatos, em muito menos tempo e com menos escalas do que a Real. Os Super H da Real voavam vazios, com grande prejuízo.

Nessas altura, Lineu fez uma coisa inesperada para um temperamento agressivo como o seu: propôs a Ruben Berta uma associação com a VARIG na Aerovias (que era a empresa internacional do Consórcio)
de sorte que a VARIG ficaria com a metade das ações da Aerovias e teria direito de nomear um diretor a quem ficariam subordinadas as linhas internacionais do Consórcio.

E quem vocês acham que foi nomeado Diretor da Aerovias, representando a VARIG ? Ora, eu mesmo ! Saí do Rio e mudei-me para um hotel em SAO, apresentando-me na Diretoria do Consórcio com minha malinha na mão e cheio de dúvidas, pois entrava num ambiente tradicionalmente hostil. Comecei logo a trabalhar, numa salinha que me fora destinada fazendo um levantamento das linhas internacionais da Aerovias, pelo qual cheguei à conclusão de que, pelo menos a linha de Tóquio não poderia continuar sendo executada com os Super H, pois os aviões voavam vazios, com grande prejuízo.

Propus então aos dois Presidentes que a rota para Tóquio fosse suspensa temporariamente até a chegada dos jatos encomendados pela Real, no que minha proposta foi aceita. Continuei assim atuando como vice da RG e da FFV, bem como Diretor Superintendente da Aerovias, deslocando-me entre SAO e RIO e entre RIO e SAO, e às vezes POA, na medida do necessário. 

2 comentários:

  1. Olá Comnadante Rubens. Que bom ver seus artigos!

    Meu pai, Nery José Dias, foi seu colega de bons tempos de Varig!

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  2. Olá,
    Quando criança, em 1960, com 10 anos, voei na 1a classe do Super H da REAL, pago pela FAB, graças a meu pai, que foi fazer um curso em Norfolk, na rota GIG/BEL/CCS/SDQ/MIA. Pena que não me lembre de detalhes, mas tenho a capa do tkt até hoje...Abcs

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