sábado, 23 de junho de 2012

47) Uma aventura nos Andes

DC-3

Nossa Força Aérea, a FAB, houve época em que mantinha linhas de transporte de correio, alguma carga e uns poucos passageiros por todo o país, e, inclusive, para alguns pontos do exterior. Usavam aviões Douglas C-47 cargueiros, nos quais os passageiros tinham que sentar-se em bancos de lona sem muito conforto; mas enfim, não custava nada e por isso ninguém reclamava. Certa vez num vôo com destino a La Paz, Bolívia, segundo contou-me um oficial que participara do acontecimento, um desses aviões levava uns poucos passageiros alem da tripulação, voando a mais de 3500 metros de altitude para poder sobrevoar o elevado e extenso planalto que existe na rota que vai de Cochabamba a La Paz. Para o C47, voar nessa altitude é quase impossível, principalmente se parar um de seus dois motores. O avião transportava algumas garrafas de oxigênio para o uso dos passageiros naquelas altitudes, além de alguma comida, agasalhos e água.

Estavam a meio caminho quando subitamente um dos motores parou de funcionar. Nessa situação, naquela altitude, não havia outra coisa a fazer se não pousar onde fosse possível. Felizmente o planalto era liso, sem obstáculos, e o piloto conseguiu pousar sem maiores dificuldades, com todos bem e o avião intacto. Mas, então, o que fazer? Estavam a centenas de quilômetros de qualquer lugar habitado, numa altitude em que quase não se podia respirar, e sob uma temperatura de pelo menos uns 20 graus C negativos, sem falar no vento cortante. Sem alternativa, pois a chegada de socorro era duvidosa, o grupo decidiu caminhar para oeste, em busca do fim do terrível planalto, onde poderia haver algum recurso de salvamento e comunicação.

Saíram, pois, caminhando com dificuldade pela árdua região, uns ajudando os outros, pois havia pessoas fisicamente menos aptas, carregando consigo o oxigênio, a comida, a água e alguns agasalhos, O avião ficou fechado e abandonado no local, pois não havia outra coisa a fazer, salvo uma vaga esperança de que pudessem chegar a algum lugar civilizado e pedir ajuda da FAB que, talvez, pudesse enviar mecânicos e um motor sobressalente para a aeronave, o que parecia não ser muito provável.

Assim, com muita coragem e determinação, caminharam muitos quilômetros até chegarem, afinal, a um local onde havia uma mina de cobre, com pessoas que os puderam socorrer. Havia recursos médicos rudimentares, alimentação e aquecimento, além de um caminhão que, a despeito do desconforto, pode transportar todos, por uma íngreme e estreita estradinha, pelas encostas do planalto, até uma pequena povoação onde conseguiram comunicar-se com La Paz. Viajaram depois por estrada até a Capital, de onde alguns retornaram ao Brasil. O que houve com o avião? Pois pasmem! Uma equipe de mecânicos da FAB conseguiu realizar a extraordinária tarefa de ir ao local onde estava o avião, num caminhão levando um novo motor para o C-47, que foi instalado com todos os efes e erres, a despeito da altitude, do frio e do vento, permitindo assim que um intrépido e hábil piloto decolasse do planalto e retornasse ao Brasil com o avião intacto! Que aventura magnífica, não?

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