domingo, 10 de junho de 2012

25) A transição do vôo visual para IFR

Electra 10

Como já disse, nos primórdios das operações variguianas, a gente voava quase que exclusivamente navegando com base nas referências do terreno. Conheciam-se matos de eucaliptos de forma característica, morros, estradas de ferro ou rodoviárias, pontes e até, absurda e surpreendentemente, o cheiro do carvão nas regiões de minas, ou o gado nas campinas: Se o gado ficava tranqüilo com a passagem do avião, era porque estava acostumado, e então estávamos na rota; se se espantava e saía correndo, estávamos perdidos! Excepcionalmente atravessávamos camadas de nuvens, e aí então era preciso usar os rudimentares instrumentos de nossos antigos aviões para manter a atitude de vôo e não entrar em parafuso ou estolar. Os velhos F-13 tinham um instrumento que permitia o vôo sem visibilidade exterior, sem precisão e com restrições: o “giro-inclinômetro”, ou “pincel e bolinha” como também era chamado. Apesar de nunca termos recebido treinamento de vôo por instrumentos, arriscávamos algumas tentativas com os velhos aviões e até que não nos saíamos tão mal.

Um belo dia a VARIG comprou da Panair dois Electra 10E, bimotores que tinham algum instrumental para vôo IFR, inclusive um goniômetro Telefunken, que era operado pelo Rádio-Operador, interpretando os sinais A e N do código Morse. Era complicado e impreciso, dependendo sua exatidão da perícia e experiência do Rádio-Operador. Às vezes a gente pensava que o rádio-farol estava à frente, quando na realidade já se tinha passado sobre ele há muito tempo, e isso causava algum transtorno. A despeito dessas coisas, nós os novatos começamos a voar por instrumentos no mau tempo, orientados pelo Cmte. Ruhl. Surgiram as primeiras cartas de aproximação por instrumentos, toscas e geralmente mal impressas a ponto de se tornarem ilegíveis com o uso. Mesmo assim, a gente executava “problemas” de aproximação por instrumentos com má visibilidade, com resultados satisfatórios.
Havia casos especiais, como, por exemplo, Curitiba, onde começamos a operar com os Eletrinhas, antes de irmos a SAO e RIO. Em Curitiba havia dois aeroportos: o antigo e base da FAB, que se chamava Bacacherí e o “novo”, ainda em construção, chamado Afonso Pena onde não havia, ainda, rádio-farol(NDB). O farol estava localizado em Bacacherí. Assim, a gente chegava sobre Bacacherí voando por instrumentos com teto baixo e chuva, descia até pegar contato com o solo, e então seguia precariamente uma linha telefônica que ligava o velho aeroporto ao novo, onde a gente pousava a duras penas.

E assim as coisas prosseguiram, melhorando gradativamente cada vez com mais recursos tecnológicos que foram progressivamente equipando os painéis dos aviões cada vez mais aperfeiçoados, até os dias de hoje, quando a precisão, os automatismos e a segurança são lugares comuns. Teve destaque, em sua época, o uso de Link-Trainers no treinamento de vôo IFR para os pilotos menos experientes da VARIG. Depois dos LT vieram os simuladores, introduzidos na empresa pelo competente Cmte. Lili Lucas Souza Pinto, de quem fui grande amigo e companheiro, desde nossos primeiros passos aviatórios na antiga VAE, em POA, até a época em que atuei no treinamento de Operações, no RIO, na década dos anos 1980, quando ele era Chefe do setor de simuladores no Galeão.

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