terça-feira, 25 de março de 2014

72) CONJECTURAS EM TORNO DE VIDA, MORTE E IMORTALIDADE




 Rubens A R Bordini, março 2014
 
Pelo menos neste nosso planeta, temos seres vivos (temporariamente) e objetos ou coisas não vivas. Os seres vivos, que são os animais e os vegetais, são hospedeiros de um mecanismo de sobrevivência que faz com que o alimento indispensável à vida seja processado por cada um de seus órgãos de forma a  produzir, em resumo, energia ou vida. Todos os seres vivos precisam alimentar-se para continuarem a viver. Já as divindades que supostamente criaram os seres vivos deste planeta, não precisam alimentar-se e, a despeito disso, são eternas. Essas divindades, segundo as teorias religiosas, não tiveram nem princípio nem vão ter fim, ao passo que os seres vivos têm uma coisa e a outra; assim sendo, não foram criados à imagem da divindade, pois então, deveriam ser também imortais.

Deixando um pouco os vegetais de fora, podemos dizer que ao surgirem no planeta os primeiros seres premiados com o mecanismo quimio-biológico que se chamou VIDA, seres esses que passaram a ser chamados de ANIMAIS, eles já estavam imbuídos, de uma forma misteriosa, de uma valorização sem limites daquilo que experimentaram e gostaram, ou seja a “vida”. A cessação da adquirida “vida”, ou “morte”, passou a ser indesejada e até temida. Porque não continuar vivendo para sempre, já que isso parecia tão bom ?

Então, ante a constatação genética e instintiva de que neste mundo tudo tem que ter um começo e um fim, surgiu como por encanto a solução : Ao invés de perpetuar o indivíduo, já que isso não parecia possível, porque não perpetuar a espécie, através de descendentes, o que seria uma forma de  obter a desejada imortalidade, ainda que de certo modo simbólica ! Assim, estabeleceu-se como que por encanto, um mecanismo de reprodução da espécie, um tanto complicado, convenhamos, mas que tem atendido ao desejo talvez inconsciente dos seres vivos: Foram necessários dois indivíduos para estruturar o mecanismo de reprodução. No caso dos animais, um deles chamou-se “macho” e o outro “fêmea”

Por razões desconhecidas, já nos primórdios desses tempos tri-vetustos, existia o omnipresente “chauvinismo”, que, não se sabe nem como nem porque, privilegia os machos em detrimento das fêmeas, o que é uma tremenda injustiça ! Assim sendo, quando surgiu esse casal reprodutor, coube ao macho  apenas a simples tarefa de introduzir no organismo da fêmea uma semente gerativa que seu corpo produzia de graça e sem qualquer esforço, ao passo que à fêmea coube a exaustiva tarefa de fazer essa semente germinar, e arcar com todas as demais complicações que o processo passou a exigir das mesmas.

Os animais propriamente ditos, ou “bichos”, passaram a fazer o que se chama de “copular”, associando-se um macho e uma fêmea com a finalidade de reproduzir a espécie, mas somente nas épocas em que as fêmeas estavam propícias, ou no “cio”, para o que os machos eram atraídos pelo odor característico da fêmea nessa fase, odor esse que servia nãoi só para atrair e predispor o macho, mas também para guiá-lo até o local da fêmea, como se fosse um radar orientador.

As supostas divindades (se é que existiram, afinal) que “bolaram” esse mecanismo de pretensa imortalidade para os seres temporariamente vivos, deram-se conta de que o tal processo de reprodução das espécies poderia ser considerado cansativo, ou chato, ou desnecessário ou inconveniente por esta ou aquela razão. Por isso, para garantir o interesse dos participantes em realizar a tal cópula, fizeram magicamente com que ela se revestisse de um prazer irresistível, avassalador  principalmente no que toca aos seres humanos, o homem,, principalmente. A participante feminina dessa cópula, talvez não experimente o mesmo apelo, ou desejo, que o macho, pois ao que se vê em geral é que cabe a este a iniciativa de atuar atrativamente junto à fêmea para levá-la ao ponto de participar, às vezes a contragosto, ao passo que o macho não pode deixar de sentir desejo, pois se este não acontecer não haverá ereção de seu membro e, consequentemente, não se realizará a esperada cópula.

Isso não quer dizer que a fêmea não experimente prazer no ato sexual,  já que seu mecanismo gênito-urinário não está ali somente para urinar, mas sim provido de partes sensíveis que levam ao prazer às vezes muito intenso. No entanto, nota-se em geral, especialmente nas mulheres, um certo grau de resistência ao ato sexual (dependendo claro da mulher e do próprio homem), talvez devida ao condicionamento psicológico e milenar da mulher no que diz respeito à seleção do parceiro com o qual realizará a perpetuação da espécie. Se isso realmente existir, talvez explique a antiga subordinação da mulher ao homem, tendo ela sempre na história da humanidade ocupado um lugar secundário, o que de uns tempos para cá felizmente está acabando., exceto nas civilizações mais primitivas.

Se um casal gera dois filhos, esses rebentos estarão perfeitamente proporcionando a imortalidade simbólica de seus geradores;se produzir menos do que dois, estará havendo um  “déficit” na perpetuação da espécie, e se gerarem mais do que dois, isso produzirá um excesso na população do planeta que poderá ser prejudicial, a não ser, claro, que as guerras, a violência urbana e os acidentes de trânsito se encarreguem de proporcionar o tal déficit.

Por outro lado, a ciência médica progride tanto e tão rapidamente, que as grandes causas de morte estão ficando cada vez mais distantes; praticamente já não se morre de uma série de doenças, tais como poliomielite, varíola, etc. Se a medicina conseguir neutralizar ou pelo menos retardar progressivamente a decadência de nossos órgãos face ao envelhecimento, um belo dia (certamente muito distante ainda), o homem tenderá a se tornar imortal, e aí, então, as “transas” serão só por prazer, sem a necessidade de procriar, o que será sem dúvida uma infelicidade, pois nós amamos nossos filhos e na minha opinião não desejaríamos viver sem que eles existam ! Verdade?

terça-feira, 18 de março de 2014

71) DA NAVEGAÇÃO AÉREA




Rubens A R Bordini – março, 2014

O ser humano é essencialmente irrequieto! Ele precisa se movimentar de um lado para o outro, mas onde? Ora, no lugar onde vive, ou seja, na superfície deste nosso planeta. Essa superfície presta-se naturalmente à nossa locomoção, ou em terra firme ou sobre água, o que o homem aprendeu há muito tempo. Havia, porem um outro meio que se prestava à locomoção e que restava ser conquistado: A atmosfera. E muitos e muitos e muitos milênios depois que o homem começou a caminhar ereto, o meio aéreo foi afinal usado para a locomoção; surgiram as máquinas voadoras, que agora andam por aí aos milhares.

A penetração de uma dessas máquinas na atmosfera apresentava alguns problemas, sendo um deles a orientação. Era preciso saber para onde se ia, sob o risco de perder-se. No começo os aviões só tinham dois instrumentos de navegação ou orientação no ar: A antiga bússola magnética, supostamente inventada pelos chineses há milênios, e o olho do aviador ou navegador. Era preciso enxergar o solo e identificar pontos de referência para orientar-se satisfatoriamente. Talvez alguém ainda se lembre do tempo em que a gente fazia um voo rasante sobre uma estação ferroviária, para ler no telhado da mesma o nome da localidade, que alguém, generosa e prudentemente, pintara em letras garrafais. Era uma confirmação indiscutível que a gente estava, ou na rota, ou perdido!

Outro exemplo de navegação aero-ferrodrômica: Quando a VARIG começou a voar para Montevideo, havia uma linha ferroviária ligando Rio Branco (fronteira com Jaguarão, no RS) à capital uruguaia. Com mau tempo, a gente voava rasante sobre a linha do trem, chegando a Montevideo razoavelmente bem orientado. Acontece que a FAB (Força Aérea Brasileira) também voava para Montevideo e usava a mesma linha férrea como instrumento de orientação. Havia portanto o perigo de colisão entre os aviões da FAB e da VARIG, nos dias de má visibilidade. Foi preciso então haver um acerto entre VARIG e FAB para que os respectivos pilotos voassem sempre com os trilhos do trem à sua esquerda, evitando assim o risco da colisão!

Essa época, porem, da heroica navegação visual, passou, ou foi atenuada, quando surgiu o rádio. Na verdade, uma complementava a outra, como era o caso, por exemplo, de Curitiba, quando começamos a voar para lá depois de recebermos os Lockheed “Eletrinha”: Havia lá um aeródromo antigo, Bacacheri, militar, que possuía um rádio-farol, e um novo aeroporto, Afonso Pena, onde deveríamos pousar, mas que ainda não tinha rádio-farol. Então, com mau tempo, sobrevoávamos Bacacheri voando por instrumentos e apoiados no farol local, descíamos até contato visual precário com o solo, e então, visualmente, seguíamos em voo rasante sobre uma linha telefônica que ia de Bacacheri a Afonso Pena. Era, pois, uma navegação mista, rádio-visual, muito precária.

O rádio (goniometria, VOR, etc.) foi e creio que ainda é muito usado, principalmente para aproximações por instrumentos em aeroportos onde não existe coisa melhor. Para voos de longa distância, a partir dos anos 1950, surgiram equipamentos cada vez melhores, uns tornando os anteriores obsoletos. Houve o LORAN (Long Range Navigation), seu similar aperfeiçoado, que dependia de algumas estações em terra, depois algo que parecia a solução final: o Sistema Inercial, baseado em giroscópios, e que não dependia de qualquer apoio de terra; era auto-suficiente a bordo. Então chegaram os satélites que em grande quantidade abraçam hoje nosso planeta. O GPS é hoje em dia uma realidade que, aparentemente, neutraliza tudo que até pouco tempo existia e era considerado perfeito.

E não vamos esquecer a navegação astronômica, herdade da marítima, que foi usada em voos de longa distância, antes do advento dos processos mais sofisticados. Alguns aviões tinham, nessa época, uma cúpula de plexiglas, através da qual o navegador visava corpos celestes pré-escolhidos, para determinar a posição do avião em sua rota. Quando surgiram as cabines pressurizadas, no entanto, essas coberturas foram eliminadas porque, segundo consta, um navegador teria sido sugado para o exterior, quando a tal cúpula não resistiu à pressão da cabine. Apareceram então os sextantes periscópicos, mas que foram de curta duração. A VARIG tinha um radio-operador (telegrafista) a bordo de seus aviões, na época em que as comunicações em fonia eram deficientes. Com a chegada dos aviões Super-Constellation, equipados com excelente equipamento de rádio, foi possível dispensar o radio-operador, pois os próprios pilotos comunicavam-se em fonia. Como estávamos precisando de navegadores para a rota Rio-New York, demos treinamento de navegação aos telegrafistas, que passaram a ser “Navros” (Navegadores-Radio Operadores.)

Na nova rota para New York, com os aviões Super-Constellation, voava-se entre Rio e Belém durante várias horas, sobre uma densa e selvagem selva amazônica, pois ainda não existia Brasília e esse interior do país não estava desenvolvido. Voava-se, portanto, sem qualquer auxílio rádio, dependendo somente de duas coisas: a navegação celestial quando havia visibilidade, e o uso do radar meteorológico que o avião tinha na proa, e cuja antena podia ser inclinada para baixo de forma a apresentar uma visão razoável do solo à frente do avião. Os rios que atravessavam a selva tornavam-se visíveis na tela do radar e isso fornecia um tipo de navegação visual algo precário, porem melhor do que nada.

E a vetusta, e quase que completamente imutável através dos tempos, bússola magnética, que tanto serviu aos navegadores e foi conhecida e utilizada por todas as gerações de aviadores deste planeta, desde Santos-Dumont, até sei lá que tempo? Será que ela ainda é usada? Será que ainda tem seu lugar reservado no painel de instrumentos dos modernos aviões?


Eu fui um aeronauta e aeroviário por várias décadas, mas hoje, com meus noventa e tantos anos de idade, os aviões estão muito distantes de meu conhecimento, e o pouco que sei sobre os mesmos é proveniente de leituras e notícias de rádio e televisão. A única coisa que eu piloto hoje em dia é uma cadeira de rodas! Eu não saberia, portanto, dizer se a velha bússola, minha companheira de vários e inesquecíveis anos de voo, ainda está presente nos painéis. Talvez algum dia alguém atualizado nesses assuntos, possa me contar se ela ainda existe ou não! Afinal ela funciona impulsionada por algo que não nos custa nada, o campo magnético da Mãe Terra. Faço votos para que a bússola ainda apareça nos painéis dos aviões modernos, nem que seja por tradição ou homenagem a seus bons e antigos serviços.

E aqui terminamos, por enquanto! Até a próxima!