terça-feira, 12 de junho de 2012

30) As lágrimas de Berta!


Falando em tempos agitados, certa vez pude ver meu chefe chorar, apesar de sua “dureza”. O país passava por grande agitação política com a UDB (UDN?) por um lado, Brizola em POA, manifestações populares, etc. A VARIG, antes da compra da REAL e antes da mudança da Diretoria para o prédio de vários andares no Santos Dumont, alugara umas salas no nono andar de um prédio situado na esquina da rua Santa Luzia com av. Rio Branco, quase defronte ao Palácio Monroe. Isso aconteceu após a decisão de trocar POA pelo RIO onde era o centro mais importante dos acontecimentos e decisões aeronáuticas. A Diretoria da provinciana VARIG achava que se quisesse crescer teria que sair de POA.

Estávamos Berta, Erik de Carvalho e eu numa sala do nono andar, trabalhando e discutindo providências (eu já era Vice-Presidente da Fundação e da RG) com uma janela aberta, quando ouvimos gritaria e barulho de tiros vindos da rua. Chegamos à janela e vimos que havia uma multidão de populares ali pela Cinelândia, fazendo enorme reboliço em face da agitação política dos tempos. A polícia estava presente, e pudemos ver policiais com metralhadoras portáteis atirando para cima. Ficamos com receio de sermos atingidos por uma das balas, e nos retiramos para dentro da sala, deixando a janela aberta. Pois os policiais começaram a atirar bombas de gás lacrimogênio que, apesar da altura em que estávamos, entrou em grandes quantidades pela janela aberta e nos fez chorar copiosamente, além de ficarmos asfixiados.

Saímos às pressas e enveredamos pelos fundos do prédio, de onde Erik foi para casa e eu levei Berta para o hotel Aeroporto, onde estava hospedado, e onde não havia mais gás. Segui para o aeroporto, com a intenção de ir para SAO, onde presidia a REAL, achando naturalmente que lá minha presença era necessária face à agitação que o país estava vivendo. Cheguei no “check in” da RG no Santos Dumont lá pelas dez horas da noite, quando o último avião da Ponte Aérea estava saindo para SAO, lotado. Usando de minha autoridade, mandei que baixassem a escada (o Convair tinha escada própria) e entrei para falar com o Comandante. Para minha agradável surpresa, ele era um meu antigo instrutor que voara comigo nos tempos de meu aprendizado no Ae. Clube do Brasil, em Manguinhos, Rio. Ele se chamava Ciro França, era um antigo policia especial de Getúlio Vargas, e excelente sujeito, voando agora nos aviões Convair 340 da Cruzeiro. Expliquei a ele minha situação, disse que tinha que retornar a SAO e pedi-lhe que desse um jeito e me levasse, apesar do avião estar lotado. Ele sorridente e satisfeito com aquele raro encontro, disse-me que não me preocupasse, que ele me levaria de qualquer jeito, e que ficasse por ali, no “cock pit” Assim voltei a SAO apesar das dificuldades. Nunca mais me encontrei com Ciro; soube depois que ele havia morrido num acidente de avião. Lamentei, pois era um bom amigo e um grande sujeito!

Outra vez que vi Berta chorar foi na capital do México. Estávamos os dois casais num restaurante típico da capital, escolhendo os melhores e mais característicos pratos, para saborear a comida mexicana. Berta escolheu algo que não identifiquei, e o garçom perguntou se ele queria a comida “caliente”. Berta respondeu que sim, naturalmente, queria que fosse quente! Quando veio a comida, ele começou a comer com “gusto”, e subitamente ficou apoplético, sem poder quase respirar, enquanto nós não sabíamos o que fazer nem o que estava acontecendo. Em seguida ele começou a tossir e a chorar copiosamente, para nossa surpresa! A coisa foi aos pouco passando, ele voltando ao normal e bebendo muita água. Afinal ficamos  sabendo: “caliente” no linguajar deles significava “com muita, mas muita mesmo, PIMENTA”, e da malagueta , ao invés de “quente”, como julgava nosso ingênuo portoalegrense!

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