terça-feira, 12 de junho de 2012

29) O transporte de “Jango” Goulart a Brasília

Caravelle

Quando o Presidente Jânio Quadros renunciou, cabia ao Vice Jango Goulart assumir a Presidência do país. Ele estava no exterior e veio para Montevidéo onde ficou esperando notícias, pois havia uma forte oposição à sua posse, até com ameaças de violência ou prisão. A VARIG, como sempre fazia nessas situações, colocou um de seus Caravelle em Montevidéo, à disposição de Jango, para levá-lo a Porto Alegre ou mesmo Brasília. As comunicações que se faziam entre Brasilia, Rio, SAO, POA e Montevidéo estavam censuradas e por isso usava-se em grande dose, a rede de rádio - teletipos da RG -  utilizando um código para nossas mensagens. Assim, por esse meio, soube-se que Jango podia vir a POA sem risco, o que foi feito com o Caravelle. Ele foi recebido em POA por seu cunhado Brizola, e ficou aguardando notícias de BSB, enquanto exigia a presença ali de dois de seus futuros ministros, que de certo modo iam dar-lhe maior segurança. Esses futuros ministros eram o Gal. Amauri Kruel, que estava no RIO e Walter Moreira Sales, que estaria no interior de SAO, numa fazenda. Tratava-se, portanto, de levar essas duas pessoas a POA para que dali fossem com Jango a BSB.

A FAB havia proibido os vôos de SAO para o sul, ou de POA para o norte. A despeito disso, Ruben Beta, que se envolvia em tudo, seguiu clandestinamente para SAO num avião da VARIG. Já era noite e eu estava em meu gabinete, aguardando notícias, quando Berta irrompe em minha sala e diz: “Precisamos localizar o Gal. Kruel e Moreira Sales para levá-los a POA!” Isso tinha de ser feito clandestinamente, pois a FAB fiscalizava os aeroportos, menos o de POA. Fiz contato com Erik no RIO, o qual localizou o General, colocando-o num vôo da Ponte Aérea para Congonhas onde eu o esperaria. Enquanto isso, consegui à duras penas um contato telefônico com Moreira Sales, que partiu imediatamente para Congonhas, de automóvel. Aguardei a chegada do General no pátio do aeroporto, e levei-o para meu gabinete, onde estavam, Berta e M. Sales.

Tratava-se agora de programar um vôo SAO-POA com essas pessoas, sem que o pelotão da FAB o percebesse. Eu recém tinha assumido a direção da REAL, e quase não conhecia seus tripulantes, mas lembrei-me de um Comandante que fora meu colega no Curso de Monitores da Ae.C. do Brasil, no RIO, em 1941, e que voava os aviões Convair. A noite já ia avançada, quando consegui contato com o tal Comandante e lhe expliquei a situação, pedindo sua cooperação, com o que ele concordou prontamente e tratou de convocar o resto da tripulação, de sua confiança, para o vôo. Entrementes eu tinha ordenado o preparo de um avião CV-340 da REAL, que os levaria a POA. Para executar esse vôo, nas circunstâncias do momento, combinamos o seguinte: O Comandante faria um plano de vôo para Buenos Aires, onde tínhamos um Convair em pane, com o avião vazio, o que era permitido, partindo dos hangares para a cabeceira da pista, onde simularia uma pane de motor, informando à Torre de Controle que retornaria aos hangares para sanar essa pane. No escuro de um canto dos hangares estariam escondidos as três personagens que iriam a POA. Então eles embarcariam “na surdina”, o avião retornaria à pista e decolaria com destino a POA. E assim foi feito com pleno sucesso, e Jango voou para Brasília com seus futuros ministros, num vôo clandestino, à noite, de avião agora um Caravelle com as luzes apagadas, seus pilotos falando em código conosco, e mais ninguém. Que tempos agitados, não?

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