terça-feira, 5 de junho de 2012

14) A Campanha Nacional de Aviação e o conserto dos aviões

Büeker usado como Rebocador

Havia nos anos da década de l930 um jornalista muito competente e ativo, chamado Assis Chateaubriand, que criara uma rede de jornais e estações de rádio pelo Brasil, tendo como líder o órgão “O Jornal” do Rio de Janeiro. “Chatô”, como o chamavam, gostava muito de aviões e achava que a aviação civil teria um papel muito importante no desenvolvimento do país, no que ele tinha toda razão. Como no Brasil quase não existiam aviões e muito menos campos de pouso, ou especialistas, ele imaginou e executou o que se chamou de Campanha Nacional da Aviação. Consistia isso em importar pequenos aviões dos Estados Unidos, pois no Brasil ainda não se fabricavam aviões, e distribuí-los pelos principais município do país
Com a finalidade de formar pilotos que ajudariam a criar uma mentalidade aeronáutica em nosso vasto país. A concretização dessa idéia exigia, alem dos aviões, que as prefeituras construíssem pistas de pouso, pequenos hangares e que fossem preparados instrutores de pilotagem e mecânicos de aviação. Era um vasto e desafiador programa, que foi cumprido paulatinamente pela ação dinâmica de Chatô e outras pessoas e entidades.

A ação de Chatô para comprar aviões consistia em abordar capitalistas ou empresas de sucesso, pedindo-lhes a doação de verba em dólares, da quantia necessária para comprar um avião. Todos cooperavam, pois Chatô tinha o poder de arrasar com qualquer um em sua cadeia de jornais. Ele era temido, e com razão.
Assim, foram importados muitos aviões (talvez algumas centenas), que eram doados a aeroclubes existentes ou em formação, permitindo assim, com as novas pistas, os instrutores e os mecânicos, que se criasse no Brasil, aos poucos, a desejada mentalidade aeronáutica.

Isso funcionou satisfatoriamente durante vários anos, porem ao cabo de certo tempo muitos aeroclubes estavam falidos, as pistas abandonadas, os mecânicos e instrutores desaparecidos e os aviões quebrados ou abandonados. Foi então que o Brigadeiro Diretor Geral do DAC na época decidiu fazer alguma coisa para remediar essa situação. Sua idéia foi criar uma grande oficina, ou até mesmo fábrica, subvencionada pelo DAC, que tivesse condições de reconstruir a maioria desses aviões, e redistribuí-los por entre os aeroclubes mais eficientes. O Brigadeiro não tinha idéia sobre onde localizar tal fábrica, mas um dia, conversando com Ruben Berta, este sugeriu que a fábrica fosse instalada no aeroporto Salgado Filho, sob a orientação e direção da VARIG, subvencionada pelo DAC.

A sugestão foi aceita, elaborados os devidos papéis, e a VARIG construiu junto à antiga pista 13 do aeroporto de POA, dois hangares e demais instalações para o funcionamento da pretendida fábrica. Seu funcionamento dependia de pessoal e instalações, e como a Diretoria de Manutenção da VARIG não queria envolver-se com problemas de pequenos aviões, tocou-me a mim, na Diretoria de Ensino, organizar e administrar a tal fábrica. Apareceu na época em POA um engenheiro alemão que trabalhara numa fábrica alemã de pequenos aviões (Buecker) e que precisava de emprego. Contratei-o e ele passou a montar e dirigir a fábrica, com amplo sucesso. O DAC nos informava onde havia um avião quebrado e nós íamos buscá-lo, de caminhão, em qualquer ponto onde houvesse aeroclubes. Trazíamos o avião desmontado e às vezes aos pedaços, e o reconstruíamos completamente, inclusive revisando o motor com peças que importávamos dos USA. Depois de pronto o avião era entregue ao DAC, que o redistribuía a seu critério.

Isso tudo funcionou muito bem durante alguns anos, até que, tendo havido grandes mudanças no Ministério da Aeronáutica, o Brigadeiro autor da idéia foi substituído. Quem o substituiu pensava diferente e acabou com a subvenção e, com isso, com a fábrica. Dirigia na ocasião a Manutenção da VARIG um engenheiro muito capaz (Cláudio B. Viana) que, com a compra do Consórcio REAL em SÃO, eu havia convidado para ir comigo a SÃO, dirigir a Manutenção da nova REAL. Mas Viana tinha outros planos: negociou com Berta a doação dos hangares da ex-fábrica à guisa de indenização, e deixou a VARIG, fundando naqueles hangares a AEROMOT, que passou a ser revendedora e oficina autorizada da EMBRAER em POA, e mais tarde fábrica de moto-planadores, o que acontece até hoje.

E assim, pois, começou e assim terminou a reconstrução de aviões quebrados no Brasil. Que pena !

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