quarta-feira, 6 de junho de 2012

17) As histórias da Waco e do Grey

Sérgio e Grey

Coisa curiosa, mas parece que em todo hangar de aeroclube criam-se cães vadios. Pelo menos foi isso que havia observado quando andava pelos aeródromos onde havia aeroclubes. Era o que acontecia no aeródromo de Pelotas, ao sul de Porto Alegre. Havia, entre outros cães, uma cadela de certo porte, bonita, com “pinta” de pastora alemã. Ela andava pelos arredores do hangar, havia quem a alimentasse, era conhecida de todos e seu nome era Waco, em referência a um tipo de avião que a FAB usava em suas linhas de correio aéreo militar, por razões desconhecidas.

A Waco tinha seus hábitos rotineiros. Um deles era, quando estacionávamos nosso Junkers F-13 no pátio de manobras para pernoitar, o que fazíamos duas a três vezes por semana, saltar para cima da asa esquerda do avião e ali se acomodar, passando a noite cuidando de “sua” aeronave, sem que alguém jamais a tivesse ensinado a isso. De alguma forma ela tinha-se atribuído esse dever, e a alta administração da RG jamais soube da existência desse “funcionário” tão eficiente e barato.

Para qualquer pessoa que se aproximasse do F-13, ela arreganhava os dentes, ameaçadora, salvo para nós os tripulantes, que de alguma maneira ela sabia que fazíamos parte do esquema e, portanto, tínhamos licença para embarcar no avião e desaparecer nos céus, misteriosamente, por um ou dois dias.

Um dia a Waco deu cria. Foram cerca de meia dúzia de cusquinhos muito bonitos e que todos admiravam com o consentimento da vaidosa mãe. Não resisti e peguei um machinho para mim, que trouxe para casa, em POA. Transformou-se num belo cão do tamanho de um pastor, forte e inteligente, que se atribuía deveres como sua mãe, tais como cuidar de nós, inclusive de meu filho Sérgio que era um bebê. Nossa casa tinha um murinho baixo que cercava um belo gramado do pátio. Pois o cão, que chamáramos de Grey porque era acinzentado, patrulhava nosso pátio denodadamente, e nenhum estranho ali penetrava sem sua prévia licença. Apesar de termos um muro muito baixo, sobre o qual ele saltaria com facilidade, Grey nunca fugia, ficando zelosamente em seu território.

Um dia um vizinho das proximidades, que eu nem conhecia, pediu-me o cão emprestado para acasalá-lo com uma cadela de sua propriedade, que estava no cio. Pois eu fiz a besteira de emprestar o Grey ao desconhecido vizinho. Passados alguns dias, como o cão não era devolvido, fui à casa do vizinho para buscá-lo. Com grande surpresa e contrariedade, soube por outro vizinho que o tal cidadão mudara-se de casa para endereço desconhecido, levando consigo meu cachorro tão estimado por nós. Não tive remédio senão conformar-me com a perda de um dos melhores cães que já possuí, entre muitos que o sucederam.

Um comentário:

  1. Essa é dolorida, que maldade...

    Parabéns pelas histórias, Cmte. Rubens. São deveras inestimáveis para a história aeronáutica do nosso Brasil, nosso rincão e nossa saudosa Pioneira...

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