segunda-feira, 17 de novembro de 2014

78) Conversando sobre o Universo e outras coisas



No começo não havia nada. Mas não havia nem o começo, pois não fora criado ainda o tempo, nem o espaço. Era nada mesmo. Tudo o que havia era o nada, de onde se chega ao absurdo de dizer que tudo e nada são a mesma coisa! Súbito, em lugar algum, pois não havia o espaço, e em momento algum, pois não havia o tempo, surge uma divindade super-poderosa, auto-gerada, pois não havia quem ou como fazer alguma coisa. Logicamente, para que alguma coisa seja feita, são necessárias pelo menos três contribuições: imaginação, matéria-prima e mão-de-obra. Na criação dessa divindade, no entanto, nada disso existia; daí seu poder de auto-criação, expresso muitíssimo tempo mais tarde, pela denominação de “Deus”, palavra derivada do grego (Theós) e também do latim (Dio), significando “um ser todo-poderoso”.

Essa divindade, que tinha entre mil outras qualidades a capacidade de pensar, viu-se só, cercada pelo nada e em lugar algum. Chegou à sábia conclusão de que seria melhor utilizar sua capacidade de criação, sem matéria-prima ou mão-de obra, e criar um vastíssimo e inimaginável domínio que se chamaria muito mais tarde UNIVERSO, constituído de um ilimitado espaço sem localização especificada, um tempo sem princípio nem fim, e pairando dentro desse espaço milhares do que se chamou galáxias, cada uma com muitas e muitas estrelas e estas cercadas por planetas. Tudo isso surgiu num piscar de olhos, extraído do nada, pela simples imaginação da divindade!

Os gregos antigos, com sua maravilhosa e fértil imaginação mitológica, olhavam para o céu e viam uma faixa formada por estrelas, como que um caminho celeste. Tinha uma cor leitosa e assim eles a interpretaram como sendo leite derramado pela deusa Juno, enquanto amamentava seu filho Hércules. Chamaram a essa faixa leitosa de GALA, que é “leite” em grego. Daí deriva GALAXIA, como que uma homenagem que o mundo presta à imaginação, ao espírito observador e à sabedoria dos velhos gregos.  

Constituído o Universo, a Divindade, após alguns éons, achou que aquilo não estaria perfeito sem que tivesse um ente capaz de fazer coisas por sua conta, acertando e errando, o que traria uma certa e benéfica agitação para aquela vastidão meio sem graça. Tomada essa resolução, a Divindade – ao invés de usar sua enorme capacidade de criar coisas sem qualquer esforço, sem matéria prima e sem mão de obra – o que causa um certo espanto, optou por construir, ela mesma, um projeto de ser humano, feito de barro e que recebeu da mesma um sopro de vida, pois o barro em si não era suficiente. Esse projeto – um rapagão parecendo ter uns trinta anos de idade, robusto, bem apessoado, ficou com a capacidade de andar, mexer-se em geral, sentar-se, comer, defecar, urinar, cuspir, arrotar – enfim fazer tudo aquilo que nós também fazemos.

Há, porem, um ponto aí a esclarecer: o primeiro homem precisava alimentar-se todos os dias. Não se sabe o que ele comia. Tudo o que se escreveu ou falou sobre esse homem – que por sinal se chamava Adão – não esclarece esse ponto importante: qual a ração de Adão? Era omnívoro, ou carnívoro ou ainda herbívoro? Nobody knows !    

Estamos discorrendo sobre o surgimento do primeiro homem baseados nas lendas e historias produtos das imaginações e crenças religiosas dos povos que habitam este mundo. Poderíamos penetrar nas teorias Darwinianas para chegarmos à conclusão de que o homem atual deriva de um pós-símio, que este após muitos milênios havia sido mesmo um macaco, etc, etc, de tal forma que depois de muito pesquisar poderíamos constatar que tudo veio de um ser unicelular – o que, afinal, não teria muita graça e levaria muito tempo, ao passo que o surgimento de Adão, já prontinho e acabado, é mais interessante e rápido. Além disso, dificilmente poderíamos chamar uma ameba de Adão, ou Julieta, pois as amebas não costumam ter nome – salvo, reconheço, se ela tiver nascido em Portugal, onde certamente não escaparia de chamar-se Maria!

Criado aquele exemplar da nova espécie, o cognominado Adão, a Suprema Divindade observou-o por algum tempo, orgulhoso de sua obra como criador, e afinal chegou à conclusão de que valeria a pena reproduzir aquela espécie, em quantidade, o que se conheceria muito mais tarde com a denominação de “produção em série”. Mas como fazer isso? A Divindade, que tudo podia fazer, poderia simplesmente, num passe de mágica, abarrotar o mundo com tantos Adões quanto sua fantasia bem entendesse. Mas isso não tinha graça, e acredito que a Divindade já estivesse “cheia” de tanto criar magicamente! Assim, resolveu fazer a coisa de maneira mais complicada: criaria outro ser, semelhante a Adão, porem provido de um mecanismo de reprodução que se completaria com as potencialidades de Adão e, assim, geraria um outro ser semelhante a ambos, que iria contribuir para o aumento do “rebanho” dos chamados “seres humanos”. Imaginou então como faria a coisa: tiraria um pedaço de Adão, para aproveitar as características já existentes, e dessa amostra criaria o outro ser.

“Dito-e-feito”, como se diria muito mais tarde: Deitou Adão na relva do Eden, já devidamente anestesiado com uma pancada na cabeça, e não se sabe por que método, extraiu do mesmo uma costela, com a qual, com alguns sopros e passes de mágica, criou uma criatura que se parecia com Adão, mas tinha características especiais: seu corpo era cheio de belas e suaves curvas, seus cabelos eram compridos, ondulados e aloirados, seu rosto era perfeito, com olhos levemente oblíquos, tinha pernas compridas e bem torneadas, duas encantadoras saliências em seu peito, e entre as coxas, na base do ventre, um encantador e perfeito triângulo de pelos encaracolados e um pouco mais claros que os da cabeça. Esse ser não tinha um apêndice pendurado entre as pernas e um pouco à frente, como Adão, que o usava toda vez que precisava urinar, o que ele achava muito conveniente.

Adão olhou espantado essa nova figura que aparecia à sua frente misteriosamente. Quem seria e o que pretenderia? Ele já estava acostumado àquela vida solitária, e não tinha ideia de como seriam as coisas tendo que conviver com um ser que ele desconhecia totalmente, tanto mais que ele soube que aquilo era um sub-produto de uma de suas costelas. Aliás, a criatura não parecia ser feita a partir de um duro osso, pois aparentemente era suave e macia, sem a dureza da costela.

A atitude do novo habitante do Eden era de entendimento com Adão. Parecia que esse ser desejava comunicar-se com o Primeiro Homem, porem ambos ignoravam como fazê-lo. O novo ser, que afinal foi apelidado de EVA, ou Primeira Mulher, se usarmos uma terminologia bem mais moderna, parecia ser muito mais esperta do que Adão, e por essa razão foi a primeira a deduzir que para aquela finalidade de entendimento o mais indicado seria a produção de um som à guisa de saudação, pois isso seria ameno e certamente bem recebido. Assim, num grande esforço físico e de concentração, a menina Eva conseguiu expelir ar através de sua garganta e, com o auxílio da língua e dos lábios, produzir o que podemos chamar de Primeiro Discurso da Humanidade, pois ninguém até então o fizera, tendo sido, portanto, Eva a inventora do falar.

O discurso de Eva dirigido a Adão, feito não se sabe porque em português, um idioma desconhecido, foi: -Oi!!, acompanhado de um belo sorriso que teria sido também a invenção do sorriso.

Adão estava preocupado com a conveniência e necessidade de responder à saudação de Eva, pois não ficaria bem receber aquele sorriso e aquela bela fala, sem dizer nada, como se fosse indiferente, o que ele não era. Assim sendo, empenhou-se num auto-“ground-school” sobre a maneira de articular sons. Ele observara que Eva fizera trejeitos com a boca, os olhos e as mãos, o que parecia uma preparação para o falar. Começou então a executar certos exercícios que talvez conduzissem à produção de sons: agitou os lábios, comprimiu a barriga e conseguiu algo que não passou de um arroto! Experimentou então espremer-se como se fosse evacuar, mas só conseguiu um ruído inexpressivo com seu traseiro. A Divindade, que estava por ali “de-ôlho” no comportamento de sua criatura, resolveu dar uma ajudasinha naquele esforço que fazia Adão para falar, sem qualquer resultado. Usando de seus poderes mágicos, a Divindade fez surgir um pouco atrás de Adão, uma perna humana com um pé calçando uma botina dessas de soldados que, num súbito e inesperado movimento, acertou a bunda de Adão com um razoável pontapé. Este, entre surpreso e atemorizado, pois era a primeira vez no mundo que alguém recebia tal golpe, reagiu dando um pulo para frente e exclamando alto e bom som, um grito de “ÁI...!”, que foi, afinal sua entrada no domínio das palavras, ainda que um tanto forçado.

Muito satisfeito com esse resultado, a despeito da dor na bunda, Adão preparou-se para saudar Eva com a mesma palavra em português que ela usara, porem, tal vez, um pouco maior, ou seja, um palavrão, que ele esperava que entrasse pelas belas orelhas de Eva, pois já percebera, ao ouvir o “Oi” de Eva, esse som entrara por suas orelha a dentro, pelo que pôde perceber que esses equipamentos de seu corpo – as orelhas – não serviam só para pendurar brincos, como pensara.

E assim foi feito, e Adão gostou muito de Eva, pois a mesma agradava aos sentidos do mesmo, cumprindo dessa forma a predestinação reservada àquela dupla do que se chamou mais tarde de “mamíferos”, na categoria de humanos. A natureza poderia ter estabelecido para esses mamíferos um método de reprodução da espécie semelhante ao que destinara às aves, por meio de ovos que gerariam o novo ser fora do corpo paterno ou materno, e sem os inconvenientes da gravidez, mas não o fez, por bem ou por mal.

Al fin y al cabo, por aca nos quedamos. Saludos !

segunda-feira, 10 de novembro de 2014

77) COMENTÁRIOS QUE ME OCORREM



 Vejamos: hoje é o dia 08 de novembro do ano 20l4, um sábado à noite. Estava vendo televisão (um dos poucos passatempos que tenho, após completar 94 anos de idade). Como acontece muitas vezes com aparelhos como o televisor ou meu computador, subitamente a TV saiu do ar por que eu havia sem querer tocado numa determinada tecla do controle remoto. Tentei várias vezes reestabelecer a imagem para continuar vendo o filme que estava assistindo, apertando seguidamente todas as teclas do controle, porem sem resultado. O aparelho, teimosamente, recusava-se a obedecer meus comandos, que eram certamente errados ou inadequados. Fui obrigado a pedir socorro a meu filho Sérgio, apesar de odiar incomodá-lo. Ele prontamente apareceu e em segundos, apertando miraculosamente umas duas teclas do controle, fez, magicamente, reacender-se a tela da TV e eu pude continuar vendo meu filme.

E qual a razão disso ? Porque eu não apertara as teclas corretas ? Ora, por que eu sou de outra geração ! Eu nasci há quase um século ! Minha formação estava adequada à época da não existência de teclas e botões a serem pressionados. Hoje faz-se tudo com os dedos (daí  falarmos em era digital, já que essa palavra vem do latim “digitus”, que significa “dedo” ?). Mas para pressionar as teclas certas é preciso haver conhecimento - é preciso saber o que se está fazendo. As novas e as novíssimas gerações sabem de tudo, de forma instintiva, porque esse conhecimento é de sua época, como foram outras noções de outras gerações passadas e que com o surgimento de um novo “know-how” tornaram-se obsoletas.

Diz o ditado “ninguém nasce sabendo!”, porem isso também foi atropelado pelo andar dos tempos e a inexorável evolução da mente humana; sim, eu diria que hoje se nasce sabendo; as crianças sabem de tudo que diz respeito à tecnologia atual – ou se não sabem ainda, aprendem muito rapidamente. Minha neta Sandra há pouco recebeu o glorioso título de “Doutora” numa área que é um mistério insondável para mim. Se ela porventura resolver explicar-me de que se trata, será como se eu estivesse ouvindo uma explanação feita por um dos primeiros homens ou mulheres-macacos que teriam dado início à espécie pré-humana “falando” num linguajar feito de grunhidos, precursor dos primeiros idiomas da humanidade. Quer dizer: não entenderia uma só palavra!   

Não que a Sandra fale por grunhidos, por favor! Longe de mim dizer uma coisa dessas!  Ela é muito culta, perfeitamente capaz de expor os fundamentos da tecnologia à qual se dedica, pois tem inclusive atuado como professora emérita do ramo. O problema é comigo! Meus velhos ouvidos, cobertos de teias de aranha hipotéticas, não têm condições de traduzir para meu cérebro conhecimentos que são incompatíveis com minha geração.

Há, ou tem havido, essa diferenciação entre gerações, variando seu volume em função da época,  do nível de conhecimento da humanidade em questão, e do local. Assim, por exemplo, acho que poderia dizer que durante a Idade Média (The Dark Ages), passaram-se muitas gerações sem que houvesse, de uma para a outra, uma grande diferença de conhecimento. Fatores como as guerras, por exemplo, podem contribuir para o desenvolvimento tecnológico de certos grupos humanos. Veja-se como exemplo, o que aconteceu após a segunda guerra mundial, que terminou em l945: houve um grande desenvolvimento tecnológico, científico e industrial, devido em grande parte ao que as partes em conflito haviam descoberto e desenvolvido durante a guerra, forçadas pelas circunstâncias.

E quanto às gerações futuras, que reservarão para a humanidade? Todo dia surgem coisas novas, praticamente indecifráveis para mim. Um simples telefone celular, que afinal não é tão simples assim, se comparado com o que tínhamos quando conheci essa possibilidade de comunicação, em minha adolescência, faz de tudo, só não faz (ainda !) chover, o que talvez esteja reservado para daqui a algumas gerações! Uma coisa que parece estar meio prestes a acontecer, é o comando de ações não mais pressionando-se teclas ou botões, mas talvez por transmissão de pensamento. Acho que não está  longe a época em que pensaremos numa “ordem” qualquer e a coisa se realizará através de alguma “contraption” eletrônica, sem que tenhamos usado as mãos ou os dedos! E se assim vier a acontecer, não será de admirar que a natureza que norteia nosso DNA, ou aquela orientação que faz com que adquiramos, digamos, pés e mãos no útero materno, chegue à conclusão (daqui a milênios, bem entendido) de que não precisaremos mais de dedos para apertar teclas ou botões, ou que só precisaremos de um dedo, para apontar alguma coisa, ou para coçar o nariz. Veremos, não nós, mas alguém que viva num futuro “mui, mui lejano”.