sábado, 11 de maio de 2013

67) O Acendedor de Lampiões



(de Sérgio Bordini – dando pitaco no blog do pai).

Mas hoje estava pensando no Acendedor de Lampiões da história do “Pequeno Príncipe” de Saint-Exupéry. A lembrança veio depois que revi o filme homônimo do cineasta Stanley Donen (1974).

O personagem que eu mais gostei nesta história é o Acendedor de lampiões, que infelizmente não está no filme, mas sim no livro. O Acendedor de Lampiões, para quem não lembra, era encarregado de acender e apagar um único lampião que existia no seu planeta. Nada mais tinha neste planeta: Somente o lampião e o Acendedor.
Então o Pequeno Príncipe foi falar com ele, e o Acendedor reclamou que estava de saco cheio de tanto acender e apagar o lampião. E para piorar, o pequeno planeta começou a girar cada vez mais depressa, reduzindo o tempo de acender e apagar o tal lampião, deixando o Acendedor estressado.

Bem, não houve solução para o Acendedor na história. Mas aí eu me dei conta que aqui nesta casa EU sou o Acendedor de lampiões (ou de lâmpadas externas). Ligo à noite e desligo de manhã. E, apesar do nosso planeta NÃO estar girando mais depressa, eu também enchi o saco desta tarefa. Mas aqui, Neste Planeta, existe uma solução que não existia no planeta do Acendedor de lampiões: O relé foto-elétrico. Então, ao contrário do personagem de Saint-Exupéry, eu consegui me aposentar do cargo de Acendedor de Lampiões, instalando os relés em todas as lâmpadas externas.
 


sexta-feira, 10 de maio de 2013

66) Algumas Considerações Sobre o Trânsito de Veículos

Falar sobre trânsito é algo muito usado. Há campanhas e campanhas visando maior segurança nas ruas e nas estradas brasileiras, fala-se sobre isso diariamente no rádio e na TV, mas os acidentes continuam a ocorrer todos os dias, quase sempre acompanhados por muita violência.

Ou o brasileiro é basicamente imprudente, ou incompetente, mas o caso é que tudo se repete tragicamente, parecendo que o mau exemplo que se contempla todos os dias não serve de experiência acumulada para os que permanecem rodando por nossas ruas e estradas, os quais, teimosamente, contribuem para novos e cada vez piores acidentes.

Não sou grande autoridade para dar conselhos a quem quer que seja, porem meus 72 anos de automobilismo, dirigindo os mais diversos carros nas ruas e nas estradas não só do Brasil mas também dos USA e da Europa, autorizam-me, creio eu, a fazer alguns comentários sobre o assunto de trânsito, na esperança de que alguém os leia e possa, com boa vontade, aperfeiçoar seu “driving” de veículos automotores.

Fala-se muito, em todas as campanhas e nos meios de divulgação, no excesso de velocidade como causa principal de acidentes graves com veículos. Sem dúvida o excesso de velocidade contribui para o acidente, porem a causa de acidentes mais graves, invariavelmente com mortes, é, sem dúvida, a ultrapassagem errada e em local proibido, e no entanto pouco se fala nisso. Na ultrapassagem inadequada, em que dois veículos se chocam frente a frente, há que se considerar o fato de que suas velocidades se somam, o que torna o choque muito mais violento e quase sempre fatal. Se dois veículos desenvolvendo cada um a velocidade de 80 km por hora se chocam de frente, o impacto corresponde a 80+80 km/h, ou seja, é o mesmo que um veículo chocar-se contra uma parede à velocidade de 160 km/h !

Há um outro fator a considerar com relação às velocidades nas ultrapassagens: trata-se da velocidade relativa entre os veículos que são ultrapassados e o que os ultrapassa.
Quando tentamos ultrapassar um veículo que vai à nossa frente com velocidade inferior, precisamos considerar a diferença de velocidades entre os dois, pois quanto menor for essa diferença, mais tempo levaremos na ultrapassagem e maior será o perigo. Quando tentamos ultrapassar um veículo longo ou uma fila de veículos, se tivermos uma velocidade relativamente baixa, estaremos expostos por mais tempo a uma eventual colisão. Por isso, nas ultrapassagens, precisamos ter certeza de que vamos fazê-lo rapidamente, reduzindo ao mínimo o risco de uma colisão (nas estradas simples, bem entendido).

E há também os imprevistos; coisas que podem acontecer,  e que podem  piorar a situação de quem está tentando ultrapassar. Vou contar algo que aconteceu comigo, a muitos anos, numa viagem de automóvel de São Paulo para Curitiba: Eu seguia por uma reta muito longa, numa estrada simples, na velocidade máxima permitida. À minha frente seguia uma dessas jamantas que transportam automóveis, em menor velocidade. Decidi ultrapassar a jamanta; olhei à frente e vi bem ao longe um caminhão que vinha na outra mão. Dadas as distâncias, velocidades e visibilidade, achei que poderia ultrapassar a jamanta sem dificuldades, acelerei para uns cem km/h e entrei na contra-mão mais veloz do que a jamanta. Quando estava ao lado da mesma, com o outro veículo ainda distante, um dos pneus traseiros de meu carro estourou, e eu passei a ter dificuldade em controlar o carro, que começou a oscilar de um lado para o outro, com a ameaça de uma capotagem. Eu não podia entrar à direita, pois a jamanta estava a meu lado ocupando todo o espaço, e o outro caminhão se aproximava veloz.
 
Nesse momento o atento motorista da jamanta percebeu que eu estava em dificuldades e freou seu veículo abrindo espaço à minha direita para que eu pudesse entrar na mão, apesar do “rabear” de meu carro, livrando-me do perigo iminente. Esse atento e colaborador motorista fez ainda a gentileza de estacionar fora da estrada e ajudar-me a trocar o pneu. Creio que posso dizer que devo a vida a ele, à sua maneira de ser, e no entanto não guardei seu nome ou endereço, e nunca mais o vi. Que pena !
 
Seja lá como for, e sem a pretensão de saber mais do  que os outros, gostaria de relacionar alguns pontos que me parecem importantes para evitar acidentes nas ultrapassagens, visando principalmente os motoristas inexperientes, os quais devem hoje ser muitos, considerando que anualmente as montadoras despejam milhares de novos veículos nas ruas e estradas do país, que são em parte, pelo menos, absorvidos por motoristas novatos que não têm experiência suficiente para dirigir em estradas, principalmente as simples e muito trafegadas.

Eu relacionaria o seguinte, com relação às ultrapassagens, com o objetivo de reduzir o número de mortes em acidentes:

- Nunca cruzar por cima dessa linha contínua, às vezes dupla, que proíbe a ultrapassagem em lugares perigosos. Ela existe para proteger os motoristas, e não deve ser ignorada, como acontece frequentemente. 

- Quando temos um veículo mais lento à frente, e desejamos ultrapassá-lo, devemos antes de mais nada deixar um intervalo de dois a três comprimentos de carro entre o nosso e o veículo à frente, para ter espaço para retornar à nossa mão, caso necessário.

- Ao tentar uma ultrapassagem, devemos antes passar um pouco à esquerda e olhar para a estrada à frente. Dependendo das velocidades, um veículo na outra mão pode parecer estar longe, o que não o impede de aproximar-se rapidamente e tornar-se um risco. Se seu julgamento for favorável à ultrapassagem, e as distâncias e velocidades adequadas, entre na contra-mão o mais rápido possível, cuidando para que haja espaço à frente e à direita, para reentrar em sua mão.

- Esteja sempre atento e preparado para agir em caso de perigo. Não faça coisas arriscadas; em caso de dúvida, desista. Nada justifica uma pressa que ponha a situação em perigo.
Colabore amistosamente com os outros motoristas, como espera que o façam consigo.
Nas ultrapassagens acenda os faróis, para tonar seu carro mais visível, e para avisar o motorista do carro que se aproxima, que você está na contra-mão.

- Numa estrada simples e com muito tráfego, se encontrar à sua frente uma longa fila de veículos mais lentos que o seu, desista de ultrapassá-los, pelo menos enquanto as condições forem perigosas. Lembre-se que pode não haver espaço entre dois veículos à sua frente que lhe permita retornar ao lado direito da estrada numa situação de perigo de colisão.

- À noite ou com má visibilidade, redobre os cuidados nas ultrapassagens. Com nevoeiro denso use sempre os faróis acesos para tornarem seu veículo mais visível. Verifique periodicamente o estado de suas luzes para consertar alguma queimada tão pronto quanto possível. Com nevoeiro reduza bastante a velocidade e mantenha uma boa distância do veículo à frente, para evitar os “engavetamentos” que são tão comuns por falta de cuidado. Se a situação estiver muito ruim, só podendo enxergar o veículo à frente quando estiver muito próximo ao mesmo, é melhor entrar no primeiro desvio ou posto de gasolina e aguardar melhora das condições de visibilidade.

Para encerrar estes comentários despretensiosos, aí vai um conselho, principalmente para os novatos: Proceda com cuidado, esteja preparado para situações difíceis e seja responsável, lembrando-se de que as vidas dos passageiros de seu carro estão entregues aos seus cuidados.
E boa e segura viagem !

segunda-feira, 6 de maio de 2013

65) Uma Opinião



Vou dizer algo que não é novidade: o banditismo no Brasil, especialmente em São Paulo, está crescendo assustadoramente. Assaltam pessoas comuns impunemente, e mesmo quando estas não reagem – como recomenda a Polícia – apertam o gatilho e fuzilam impiedosamente a pobre vítima que ia tranquilamente ou para o trabalho ou para casa.

Por ,ais que as polícias  se esforcem – e o fazem muito bem – os bandidos agem com total impunidade, salvo uma ou outra prisão, da qual se livram logo em seguida, pois nossa Justiça é célere em liberar bandidos. Até parece que poderia existir uma entidade que poderíamos chamar de “AAB”, ou Associação de Amparo aos Bandidos,da  qual aparentemente a Justiça participa. Alegam entre outras coisas os “Direitos Humanos”, o que taxativamente não se aplica aos bandidos, pois eles não são humanos; não são nem animais, pois estes não fazem o que nossos bandidos fazem; os animais entre outras coisas não são cruéis – matam somente para se alimentarem.

Alguma coisa tem de ser feita para  acabar com esse banditismo. Mas antes é preciso analisar porque agem assim. Claro, por ganância, pois ´ é mais fácil obter dinheiro assaltando do que labutando num emprego qualquer; também pode haver uma inclinação genética em alguns indivíduos para que se sintam realizados ao cometerem tais crimes. Deve haver algumas outras razões, mas a mais importante, a meu ver, é o destemor dos bandidos por saberem muito bem que suas vítimas não têm como se defender ! Elas são como ovelhinhas, subjugadas e indefesas. O que pode temer um bandido, armado, ao assaltar uma vítima ? Simplesmente nada, a não ser uma eventual prisão, um pequeno inconveniente a seu ver, do qual se livra logo, graças à tolerante e surpreendente Justiça brasileira.

Isso aconteceu graças à grande asneira que foi o desarmamento da população ordeira, que teve suas defesas destruídas, deixando só armados os bandidos. Ao tempo em que podíamos possuir armas de fogo, havia, sim, bandidos, porem temiam a reação armada de suas supostas vítimas e só agiam em, oportunidades muito favoráveis a eles, com a ausência do perigo, pois bandido  
é, além de cruel, covarde em essência.

Então, uma das medidas que se poderia tomar – e com urgência, sem longas e inúteis discussões no Congresso – seria liberar a posse de armas para a população em geral, como é em alguns estados norte-americanos. Ao pensar em assaltar uma suposta vítima armada, certamente o bandido iria pensar duas vezes.

Claro que essa medida acarretaria, como acontecia antigamente, alguns problemas tais como brigas que seriam resolvidas a tiros, eventuais crimes por razões emocionais, mas isso seria muito menos ruim do que a atual situação de bandidagem cruel e tendendo a aumentar. Deixem-nos possuir armas em nossa defesa, como era há algumas décadas, e o resto que se dane ! Essa medida ainda teria duas vantagens: desenvolveria a indústria de armas, como era antigamente aqui no RGS onde havia duas grandes fábricas, com os respectivos empregos, e eliminaria o  contrabando de armas dos países vizinhos, que hoje existe e que beneficia tão somente os bandidos.

Outra medida, imperiosa e urgente, seria algo como uma declaração de guerra aos bandidos, por parte dos governadores dos estados, para não envolver Brasília com seus absurdos. Uma guerra sem quartel, na qual as polícias seriam industriadas a identificar, prender os bandidos e eliminá-los sumariamente “as soon as possible”, sem discussões, sem julgamentos, sem o envolvimento da Justiça.  Claro, haveria muitos protestos e opiniões contrárias, daqueles que consideram os bandidos “bonzinhos”, alguns abusos e talvez algumas injustiças, mas o resultado seria a limpeza de nosso meio, com a eliminação desses péssimos elementos. Poderíamos, então, voltar a passear pacificamente em nossas ruas, como fazíamos antes da implantação dessa absurda e terrível praga que nos assola e que tende a aumentar  
 
Houve pelo menos um caso semelhante na história da humanidade: no século dezenove, se não estou enganado, havia no México uma situação de bandidagem semelhante à nossa. A coisa era terrível
, e que transitasse pelas estradas mexicanas, em particular, era assaltado e trucidado por bandidos. Então, em desespero de causa, o governo federal criou uma polícia montada, que se chamou de “los Federales”, que percorria as estradas em busca dos bandidos. Quando os encontrava, simplesmente os pendurava pelo pescoço no primeiro galho de árvore que encontravam, sem julgamentos ou maiores delongas. Qual o resultado ao cabo de alguns anos ? Um país livre dos bandidos, pacífico e seguro para seus habitantes !

E porquê não fazermos o que fizeram os mexicanos ? O que nos impede, alem dos protestos dos defensores de bandidos ? Teríamos escrúpulos porque algumas dúzias de maus elementos seriam varridos da face da Terra ? Como se justifica isso, se já tivemos guerras civis, revoluções e golpes quando, por motivos muito menos importantes e urgentes do que a bandidagem atual, milhares de civis e militares foram mortos, sem culpa e sem qualquer julgamento. Veja-se o caso da Síria, onde diariamente se matam civis aos montes, o que é muito pior do que a guerra anti-bandidagem que proponho.

Alguém já disse, com muita razão: “Para situações extraordinárias, medidas também extraordinárias !” É o caso agora: estamos vivendo situações mais do que extraordinárias, verdadeiramente desastrosas ! Vamos tomar medidas também extraordinárias, drásticas, corajosas e sem falsos pudores e tolerâncias absurdas. Já sabemos que bandido bom é o bandido morto ! Pois vamos à guerra contra eles, sem quartel e sem piedade. Claro que para isso é necessário coragem e determinação.  Não sei se teremos alguém capaz dessa medida. Duvido, mas quem sabe ?

As medidas que menciono acima são sérias; há porem mais uma medida que proponho,  a título de gracejo, apesar da gravidade que a situação impõe.
 Trata-se do seguinte: Como a motivação dos bandidos é a ganância, pois descobriram uma maneira fácil e trágica de obter dinheiro, poderíamos criar (e isso caberia ao Governo Federal e ao Congresso) o que se poderia chamar de INAB, ou Instituto Nacional de Amparo aos Bandidos Seria algo muito bem organizado em Brasília, com Presidente nomeado por razões políticas, alguns Vice-Presidentes, muitos assessores e secretárias, além de representações em todos os Estados, com muitos funcionários, isso a tal ponto que o Presidente da República apareceria diante das câmaras de TV, declarando com sorrisos e muito otimismo, que a taxa de desemprego nacional caíra consideravelmente, devido à instalação do INAB.
 Os bandidos se inscreveriam no INAB, passariam a receber gordas pensões mensais e nunca   mais praticariam   bandidagens, vivendo felizes e satisfeitos com  sua situação financeira que não exigiria mais a prática de assaltos, agora perigosa devido ao rearmamento da população. Para inscrever-se no INAB os bandidos teriam que comprovar que realmente eram bandidos, apresentando um atestado com firmas reconhecidas em cartórios, fornecido por uma Comissão em Brasília, que investigaria a vida pregressa do interessado, a fim de evitar o ingresso de qualquer um, mesmo não sendo bandido, nas vantagens do INAB.
 Claro que poderiam aparecer atestados falsos, como era de se esperar. Porem, haveria investigações a esse propósito e as punições seriam severas; talvez a pior delas seria passarem a pagar as pensões não em dinheiro, conta em banco ou cheque, mas sim nos temidos precatórios, que previam os pagamentos “para as calendas gregas” (como teria dito Aristóteles, certa vez, quando lhe cobraram uma dívida), ou seja, NUNCA !
E assim acabariam os assaltos e as crueldades, passando a sociedade a viver e passear tranquilamente, a despeito do dissabor de ser obrigada a pagar pesados impostos para financiar o caro INAB. Mas  afinal é melhor pagar impostos do que ser trucidado. Em tudo isso, o Brasil só tem uma coisa a perder: Não receberia, com a situação dos dias de hoje, o Prêmio Nobel da Bandidagem. Ora, que pena !
Bueno, como dizem, “quem viver verá”. Fico por aqui em minha opinião.
Se alguém chegar a ler o que escrevi, digo: Hasta pronto !

64) Comentarios sobre o Pecado


Comentários sobre o PECADO, o assim chamado JUIZO FINAL e a VIDA, de um modo em geral.

Admitindo a hipótese de que a humanidade em seus primórdios, há muitos tri-bilhões de anos, tenha sido constituída de apenas um indivíduo (Adão, talvez ?), o comportamento desse indivíduo nenhuma importância tinha, pois ele só prestaria contas de seus atos a si mesmo, não havendo mais ninguém a quem se justificar e não tendo sido, ainda, inventado o tribunal que julgaria seus atos, nem o “pecado”, que seria algo relacionado com a presença de terceiros ainda não existentes.

À medida em que, porem, a humanidade passou de um para dois, três e depois muito mais indivíduos, o comportamento de cada um deles passou, de uma forma ou de outra, a afetar, por bem ou por mal, a vida dos demais indivíduos, ou da coletividade.  Supõe-se que uma Divindade Superior, que fiscalizaria a vida dos humanos neste planeta (e onde mais pudesse interessar !), preocupada com o bem estar da coletividade humana, tenha inteligentemente elaborado um código de normas de conduta para os humanos, estabelecendo por escrito o que poderiam ou não poderiam fazer em termos de conduta. Foi assim inventado o “pecado” que foi o nome dado à violação de uma ou mais dessas normas de conduta – as quais, a propósito, passaram a chamar-se, em alguns círculos, de “Dez Mandamentos”. Elas poderiam ser quinze ou vinte, ou cem, mas para a época parece que dez bastavam.

Esse código de conduta, às vezes não é muito claro. A obediência ao mesmo está presa, em última análise, à interpretação dos usuários. Vejamos um exemplo: Há um mandamento que diz (aos homens e não às mulheres) que é pecado cobiçar a mulher do próximo, a qual, subentende-se, é muito cobiçável. Esse mandamento parece ter sido inspirado no ditado que diz que a gente sempre acha que a galinha do vizinho é mais gorda do que a sua, isso, claro, partindo do princípio de que na época em que a Divindade elaborou os Mandamentos, já havia galinhas na morada dos deuses.

Voltando ao pecado de cobiçar a mulher do próximo: entende-se em algumas rodas de supostos pecadores, que “próximo” significa ali presente, nas proximidades. Assim, se o marido viajar para a China, por exemplo, ele estará por algum tempo bem longe e, portanto, não será “próximo”.  Cobiçar sua mulher (que é boa, parece), deixará de ser, portanto,  um pecado ? Há quem pense assim, e o assunto , logo, merece ser entregue a uma comissão de doutos, com presidente e secretário, e um prazo de seis meses para apresentar uma conclusão sobre se é pecado ou não essa coisa, como se costuma fazer em alguns países que conhecemos.

Segundo se diz em alguns círculos religiosos, nosso corpo na Terra está equipado, certamente por iniciativa da suposta Divindade, com algo inidentificável, que acompanha cada um de nós por toda nossa vida, e que apressa-se a pular fora de nosso corpo assim que dermos nosso último suspiro, provavelmente com receio de ser enterrada ou cremada junto conosco. Essa “coisa” não pode ser detectada por nossos cinco ou mais sentidos terráqueos, pois não tem cheiro nem gosto, não é visível nem audível e não pode ser tocada.  Chama-se “alma” e sua missão, ao que parece, é testemunhar e registrar todos os nossos atos, sejam eles tipo “good guys” ou “bad guys”, como se diria em Hollywood. Assim, quando liberada de nosso corpo, a alma que nos acompanhava sai em disparada pelos confins do universo, em direção a uma “sala de espera para almas” que existiria em lugar desconhecido para os viventes, mas misteriosamente conhecido pelas almas errantes, que se chamaria “purgatório”. Não se sabe como as almas encontram esse desconhecido lugar, porem é válido supor que utilizem algum elaborado sistema de navegação celestial, talvez um GPS ou um inercial adaptados.

Nessa “sala de espera”, as almas ficam aguardando uma decisão divina sobre quando ocorreria um julgamento, no qual todas elas seriam réus, prestando contas a um Juiz Supremo, sobre os atos, bons ou maus, que os respectivos seres humanos haviam cometido durante sua permanência na Terra. É interessante notar que esses atos haviam sido da autoria dos corpos dos humanos e não de suas almas, que eram apenas espectadoras; e no entanto, injustamente, as almas é que eram submetidas a julgamento!
O Julgamento, ou “Juizo Final”, como o nome diz, é algo para ocorrer no fim ou término de tudo, entendendo-se por isso, supostamente, o fim do Universo com tudo o que ele possa conter. Há porem a hipótese de que esse “final” se refira tão somente aos habitantes da Terra e não ao Universo como um todo. Significaria, digamos, ao término da Humanidade, e não necessariamente ao de todas as espécies vivas deste planeta. Assim, as almas de todos os humanos existentes no momento, e de todos que já haviam habitado a Terra desde Adão, deveriam reunir-se na tal “sala de espera celestial”, e submeter-se ordeiramente ao julgamento e à sentença de um Juiz auto-escolhido, sem apelação.É de espantar que todos esses milhões e milhões de almas estivessem agrupadas no mesmo espaço cósmico, porem é preciso lembrar que as almas não têm dimensão, pelo que esse mundaréu existente no Purgatório caberia num dedal (se é que o leitor sabe hoje o que um “dedal!”).

O Juiz Supremo, feito o julgamento, atribuiria a cada alma, dependendo da conduta do vivente no qual ela  “morava”, uma sentença que poderia ser ou partir para o Paraiso, um local sumamente privilegiado no cosmos, onde se passava a eternidade deliciando-se com ambrosia e hidromel (segundo alguns autores), paquerado pelas onze mil virgens que dizem ali existir. Ninguem sabe onde fica esse “Paraiso”, porem os antigos terráqueos achavam que o céu era a “morada dos deuses”. Hoje se sabe, no entanto, que no céu só existem nuvens, aviões e um ou outro urubu nas grandes altitudes. A vantajosa ida para esse Paraiso era concedida, naturalmente, àquelas almas dos  humanos considerados “bonzinhos”.
As almas dos maus elementos eram, encaminhadas para outro local cósmico chamado de “Inferno”, um lugar muito ruim, capitaneado por um ser de muito maus bofes, chamado Satanaz, que passava seu tempo judiando com as pobres almas. Ele era tão mau, mas tão mau mesmo, que segundo dizem costumava colocar uma alma numa velha e desconfortável cadeira de dentista, fazer magicamente aparecerem na mesma uma boca com duas filas de dentes cariados e com os nervos expostos, e divertir-se executando tratamento de canais sem anestesia e com ferramentas velhas, enferrujadas e sem fio. Outro passatempo que divertia o danado do Satanaz, era apresentar a uma pobre alma uma cobrança de um gigantesco imposto de renda, já vencida e com multa e correção monetária! Só restava à vítima exclamar, em desespero de causa: “Com os diabos !”

Pecar, então, é violar pelo menos uma das normas de conduta estabelecidas arbitrariamente pela Divindade (que eu saiba, ninguém foi consultado !) às quais estão subordinadas todas as criaturas humanas deste planeta, enquanto vivas. Não se cogitou de incluir as espécies animais, apesar de também estas terem vida, por que ficou estabelecido que os animais não têm alma. Assim, um gafanhoto ou um rinoceronte têm vida mas não estão sujeitos a qualquer código de conduta, preocupando-se somente com a sobrevivência sua e de sua espécie  Nunca se ouviu falar no “pecado” de um gafanhoto !
 E como os seres humanos tomaram conhecimento dessas normas (ou mandamentos) criadas pela Suprema Divindade, considerando o fato de que na época em que foram editadas não havia imprensa, rádio ou televisão ? Ora, muito simplesmente: foram ditadas pela Divindade a um indivíduo que tinha esse privilégio de escutar deuses, ao que consta no alto de uma montanha, certamente para estar mais perto da Divindade que morava nos céus (pelo menos à época) e assim melhor poder escutá-la. Esse ditado foi transcrito de alguma forma não sabida e convenientemente divulgado para vigorar para todo o sempre, pelo menos entre aqueles que aceitam essa crônica como válida.

Há, porem, uma respeitável quantidade de seres humanos que, aparentemente, não aceitam esses mandamentos, e que frequentemente violam as regras estabelecidas nos mesmos, incorrendo, assim, supostamente, numa situação de “pecado”. Só no Brasil, pelo menos são assassinadas umas trinta ou quarenta pessoas por dia, a despeito de existir um “mandamento” que diz categoricamente: “Não matarás !” Isso sem falar nas guerras que ainda andam por aí, nos atentados, no terrorismo em geral. Somos forçados, nós os terráqueos, a concluir que no que toca a “mandamentos”, “pecados”, “juízo  final” e quejandos, o ser humano e sua alma (se ela existe) , de um modo em geral, não teme mais tanto as judiarias de Satanaz, certamente por “una de três” (como diriam nossos vizinhos uruguáios) razões, a saber:ou não se acredita mais nem em alma nem em Satanaz, ou Satanaz existe mesmo e está usando seu poder para tornar o ser humano cada vez pior, a despeito do que possam pensar os deuses bonzinhos, ou a “vida” está ficando cada vez mais desvalorizada entre todos nós, a ponto de que um molecote de 14 ou 15 anos de idade, sem eira nem beira, ignorante e burro, achar-se no direito de tirar a vida de outrem, geralmente uma pessoa considerada “de bem”, sem hesitar e sem qualquer motivo plausível Ah! Existe uma quarta hipótese: Talvez Satanaz esteja velho demais, com sua conhecida maldade atenuada pelos éons que se passaram, e que passe seu tempo sentado, com uma ou outra alma nos joelhos, contando velhas e gastas histórias que já não atemorizam ninguém, salvo as criancinhas, como as histórias do bicho-papão !

E já que falamos em “vida”, o que é isso ? Parafraseando meu falecido sogro, Dyonélio Machado, eu diria que a vida é um mistério entre duas tragédias. Sim, porque o nascimento é uma tragédia, pois o bebê tem que abandonar o conforto e a tranqüilidade do útero materno, onde não tem preocupações e tudo lhe é fornecido de graça, e invadir, chorando por reconhecer que isso é uma tragédia, um mundo hostil, onde ele percebe pela primeira vez que não é imortal, como poderia pensar. A outra tragédia que limita a vida é a indesejável morte (pelo menos para alguns), que põe um fim no mistério da vida!

Quando começa a “vida” ? Nos seres humanos, ela depende da conjunção de um códico bio-genético masculino com um feminino, em ambiente adequado. O espermatozoide  penetra através das paredes do óvulo e aí ocorre uma reação quimio-biológica que gera a vida dentro do útero da mulher. Mas essa reação, a meu ver, precisa ser acompanhada por uma “centelha” vital que é como um mecanismo de “start” que provoca o desencadear de um processo evolutivo que  faz com que se desenvolvam os órgãos internos da criatura que vão assegurar a continuidade da recém-iniciada “vida”É como se esses órgãos, em desenvolvimento, recebessem um impulso biológico para continuarem funcionando adequadamente até a falha de um dos mais importantes,  como o coração, quando, então, tudo terminaria. É interessante notar que a vida aparentemente começa ANTES de existirem os órgãos vitais do corpo, ou seja, parece que a vida nessa fase inicial independe do funcionamento dos futuros órgãos, que nesses momentos existem apenas em uma provável programação genética.

O ser humano, face a essas e muitas outras interrogações  cosmológicas, tem recorrido a pseudo-soluções místicas, atribuindo a entidades improváveis a solução dos mistérios do universo e da vida, que continuam sendo mistérios. Resta ver.

63) Reflexões Sobre o Universo

UNIVERSO = Do Latim: Unis (único); 
Versum (modificado, transformado, reduzido); 
Universum: Reduzido à unidade, uma coisa só.

No começo nada havia, ou tudo que havia era nada, donde pode-se concluir que TUDO e NADA eram a mesma coisa. Pouco importava que TUDO pudesse significar muita coisa, pois não existia nada. Isso foi num determinado momento, inimaginável, pois não existiam, ainda, tempo e espaço. Inexplicavelmente, surgiu súbito uma altíssima concentração de energia. num lugar que ainda não existia, mas que de certa forma estava pré-destinado a ser a sede do que se chamou muitos e muitos éons  mais tarde de “Big Bang”, ou seja, a explosão que deu origem ao que chamamos de “Universo”.

Essa explosão de energia, que ocorreu não se sabe por que, foi  conseqüência de uma incalculável concentração de algo que inexplicavelmente não existia, mas que foi inimaginavelmente poderoso para que pudesse enviar aos quatro cantos do imensurável e infindável  espaço cósmico, que passou a existir a partir desse momento, pois então já deveria te sido criado o TEMPO, os zilhões de pedaços daquela explosão, que vieram a constituir o que parece que se pretendia: o UNIVERSO.


Este, então, solidificou-se sob a forma de muitas e muitas galáxias prenhes de estrelas e planetas, que se expandiram pelos infindáveis espaços, a velocidades incalculáveis e constantes, pois não havia resistência ao avanço,em busca do inalcançável: o infinito. Esse Universo fragmentado compunha-se de milhões de galáxias e estas  de milhões de “sistemas solares” constituídos de muitas estrelas e seus respectivos planetas.

Dessa complexidade cósmica, fazermos parte nós, os habitantes de um humilde planeta que faz parte de uma talvez modesta galáxia, como participantes de um agregado de seres vivos, muitos milhões deles,.espalhados pela superfície deste planeta que se chamou TERRA, cuja coletividade recebeu o nome de HUMANIDADE. Alguns desses seres, através dos tempos, têm procurado explicar os mistérios cósmicos da existência do Universo. Essas tentativas de explicação estão adaptadas às épocas em que foram imaginadas, e têm sido, sistematicamente, superadas ou suplantadas, as mais antigas pelas mais modernas, à medida em que evoluem os conhecimentos, a pesquisa, a cultura, o realismo que substitui a crendice. Essas novas conclusões passam a ser consideradas como “verdade dos fatos”, até que, passado algum tempo, novas “verdades” sejam adotadas em lugar das “antigas”, e assim sucessivamente, através dos tempos.


Imaginemos, portanto, que numa dessas inumeráveis galáxias, num de seus múltiplos “sistemas solares”, exista um planeta (ou mais de um) habitado por seres semelhantes de certa forma aos humanos de nossa Terra,mas que tenham evoluído através dos tempos, não necessariamente segundo as leis Darwinianas que afinal talvez só se apliquem a este planeta onde vivemos, a um ponto de sabedoria, cultura, experimentação e pesquisa muito , mas muito mesmo, superior ao dos sábios terráqueos, de tal forma que aquilo em que acreditamos ser a pura verdade e explicação dos fatos cósmicos, seja em  última análise uma “história da Carochinha” (nossa, bem entendido!) para as mentes desses sábios ultra-galaxianos.  As conclusões a que eles então teriam chegado, seriam “verdades” que substituiriam as nossas de longe, porem que só se aplicariam a eles, sem chegar ao nosso conhecimento. E será que lá, nesse longínquo, hipotético e desconhecido planeta as coisas se passariam como aqui ? Será que a “verdade” deles também se tornaria obsoleta com o passar do tempo ? Caso isso não aconteça, então, eles teriam chegado à almejada “verdade absoluta” que, enfim, tudo explicaria !


Voltando a nosso planeta, certamente nossas mais privilegiadas mentes, nesta e nas seguintes gerações, continuarão à procura da explicação sobre as origens, os destinos e a finalidade do que chamamos por enquanto de Universo, apesar de que, talvez, tudo isso venha a ser para as mentes humanas, inexplicável para todo o sempre. E porque, então, continuar, geração após geração de humanos, na busca dessas inalcançáveis explicações, representando esse insucesso uma eterna frustração ? Ora, talvez isso seja uma predestinação biológica e atávica dos seres humanos, que não se conformam em simplesmente existirem, sem que sintam uma compulsão genética na busca de uma justificativa para sua existência, como se carregassem um sentimento de culpa para tal, que seria aliviado com justificativas aceitáveis por suas mentes.

Entrementes, nós todos, habitantes deste pedacinho de Universo, estamos desfrutando  nossa VIDA, que é inevitavelmente temporária, com o que não temos alternativa senão nos conformarmos. Mas não sejamos pessimistas: temos muitas coisas com que nos  alegrarmos; temos amizades, amores, estamos dotados da capacidade de experimentar e usufruir de bons sentimentos, e isso é precioso. Não foi à toa que o Destino, ou seja lá quem tenha sido, fez com que nossa espécie seja constituída de “machos” e “fêmeas”, com características semelhantes mas não iguais, de tal sorte que uns sejam atraídos pelos outros e, assim, amarem-se, em benefício dos indivíduos e da espécie.


Sejamos, pois, otimistas e satisfeitos, já que a VIDA vale a pena ser vivida, a despeito das eventuais circunstâncias que determinaram o surgimento e o destino do Universo, com as quais, em resumo, não nos devemos preocupar, pois certamente jamais as conheceremos perfeitamente e seu conhecimento não iria modificar para melhor nossa misteriosa existência.

E, por enquanto, fico por aqui.

OBSERVAÇÃO: A expressão “misteriosa existência” que uso acima foi inspirada numa frase de autoria de meu falecido sogro, o médico, intelectual e escritor, DYONÉLIO MACHADO, que está gravada na lápide de sua sepultura, e que diz mais ou menos assim, pois não estou bem lembrado da mesma: “A vida é um intervalo entre dois mistérios !” (referiu-se naturalmente, ao nascimento e à morte).