segunda-feira, 6 de maio de 2013

64) Comentarios sobre o Pecado


Comentários sobre o PECADO, o assim chamado JUIZO FINAL e a VIDA, de um modo em geral.

Admitindo a hipótese de que a humanidade em seus primórdios, há muitos tri-bilhões de anos, tenha sido constituída de apenas um indivíduo (Adão, talvez ?), o comportamento desse indivíduo nenhuma importância tinha, pois ele só prestaria contas de seus atos a si mesmo, não havendo mais ninguém a quem se justificar e não tendo sido, ainda, inventado o tribunal que julgaria seus atos, nem o “pecado”, que seria algo relacionado com a presença de terceiros ainda não existentes.

À medida em que, porem, a humanidade passou de um para dois, três e depois muito mais indivíduos, o comportamento de cada um deles passou, de uma forma ou de outra, a afetar, por bem ou por mal, a vida dos demais indivíduos, ou da coletividade.  Supõe-se que uma Divindade Superior, que fiscalizaria a vida dos humanos neste planeta (e onde mais pudesse interessar !), preocupada com o bem estar da coletividade humana, tenha inteligentemente elaborado um código de normas de conduta para os humanos, estabelecendo por escrito o que poderiam ou não poderiam fazer em termos de conduta. Foi assim inventado o “pecado” que foi o nome dado à violação de uma ou mais dessas normas de conduta – as quais, a propósito, passaram a chamar-se, em alguns círculos, de “Dez Mandamentos”. Elas poderiam ser quinze ou vinte, ou cem, mas para a época parece que dez bastavam.

Esse código de conduta, às vezes não é muito claro. A obediência ao mesmo está presa, em última análise, à interpretação dos usuários. Vejamos um exemplo: Há um mandamento que diz (aos homens e não às mulheres) que é pecado cobiçar a mulher do próximo, a qual, subentende-se, é muito cobiçável. Esse mandamento parece ter sido inspirado no ditado que diz que a gente sempre acha que a galinha do vizinho é mais gorda do que a sua, isso, claro, partindo do princípio de que na época em que a Divindade elaborou os Mandamentos, já havia galinhas na morada dos deuses.

Voltando ao pecado de cobiçar a mulher do próximo: entende-se em algumas rodas de supostos pecadores, que “próximo” significa ali presente, nas proximidades. Assim, se o marido viajar para a China, por exemplo, ele estará por algum tempo bem longe e, portanto, não será “próximo”.  Cobiçar sua mulher (que é boa, parece), deixará de ser, portanto,  um pecado ? Há quem pense assim, e o assunto , logo, merece ser entregue a uma comissão de doutos, com presidente e secretário, e um prazo de seis meses para apresentar uma conclusão sobre se é pecado ou não essa coisa, como se costuma fazer em alguns países que conhecemos.

Segundo se diz em alguns círculos religiosos, nosso corpo na Terra está equipado, certamente por iniciativa da suposta Divindade, com algo inidentificável, que acompanha cada um de nós por toda nossa vida, e que apressa-se a pular fora de nosso corpo assim que dermos nosso último suspiro, provavelmente com receio de ser enterrada ou cremada junto conosco. Essa “coisa” não pode ser detectada por nossos cinco ou mais sentidos terráqueos, pois não tem cheiro nem gosto, não é visível nem audível e não pode ser tocada.  Chama-se “alma” e sua missão, ao que parece, é testemunhar e registrar todos os nossos atos, sejam eles tipo “good guys” ou “bad guys”, como se diria em Hollywood. Assim, quando liberada de nosso corpo, a alma que nos acompanhava sai em disparada pelos confins do universo, em direção a uma “sala de espera para almas” que existiria em lugar desconhecido para os viventes, mas misteriosamente conhecido pelas almas errantes, que se chamaria “purgatório”. Não se sabe como as almas encontram esse desconhecido lugar, porem é válido supor que utilizem algum elaborado sistema de navegação celestial, talvez um GPS ou um inercial adaptados.

Nessa “sala de espera”, as almas ficam aguardando uma decisão divina sobre quando ocorreria um julgamento, no qual todas elas seriam réus, prestando contas a um Juiz Supremo, sobre os atos, bons ou maus, que os respectivos seres humanos haviam cometido durante sua permanência na Terra. É interessante notar que esses atos haviam sido da autoria dos corpos dos humanos e não de suas almas, que eram apenas espectadoras; e no entanto, injustamente, as almas é que eram submetidas a julgamento!
O Julgamento, ou “Juizo Final”, como o nome diz, é algo para ocorrer no fim ou término de tudo, entendendo-se por isso, supostamente, o fim do Universo com tudo o que ele possa conter. Há porem a hipótese de que esse “final” se refira tão somente aos habitantes da Terra e não ao Universo como um todo. Significaria, digamos, ao término da Humanidade, e não necessariamente ao de todas as espécies vivas deste planeta. Assim, as almas de todos os humanos existentes no momento, e de todos que já haviam habitado a Terra desde Adão, deveriam reunir-se na tal “sala de espera celestial”, e submeter-se ordeiramente ao julgamento e à sentença de um Juiz auto-escolhido, sem apelação.É de espantar que todos esses milhões e milhões de almas estivessem agrupadas no mesmo espaço cósmico, porem é preciso lembrar que as almas não têm dimensão, pelo que esse mundaréu existente no Purgatório caberia num dedal (se é que o leitor sabe hoje o que um “dedal!”).

O Juiz Supremo, feito o julgamento, atribuiria a cada alma, dependendo da conduta do vivente no qual ela  “morava”, uma sentença que poderia ser ou partir para o Paraiso, um local sumamente privilegiado no cosmos, onde se passava a eternidade deliciando-se com ambrosia e hidromel (segundo alguns autores), paquerado pelas onze mil virgens que dizem ali existir. Ninguem sabe onde fica esse “Paraiso”, porem os antigos terráqueos achavam que o céu era a “morada dos deuses”. Hoje se sabe, no entanto, que no céu só existem nuvens, aviões e um ou outro urubu nas grandes altitudes. A vantajosa ida para esse Paraiso era concedida, naturalmente, àquelas almas dos  humanos considerados “bonzinhos”.
As almas dos maus elementos eram, encaminhadas para outro local cósmico chamado de “Inferno”, um lugar muito ruim, capitaneado por um ser de muito maus bofes, chamado Satanaz, que passava seu tempo judiando com as pobres almas. Ele era tão mau, mas tão mau mesmo, que segundo dizem costumava colocar uma alma numa velha e desconfortável cadeira de dentista, fazer magicamente aparecerem na mesma uma boca com duas filas de dentes cariados e com os nervos expostos, e divertir-se executando tratamento de canais sem anestesia e com ferramentas velhas, enferrujadas e sem fio. Outro passatempo que divertia o danado do Satanaz, era apresentar a uma pobre alma uma cobrança de um gigantesco imposto de renda, já vencida e com multa e correção monetária! Só restava à vítima exclamar, em desespero de causa: “Com os diabos !”

Pecar, então, é violar pelo menos uma das normas de conduta estabelecidas arbitrariamente pela Divindade (que eu saiba, ninguém foi consultado !) às quais estão subordinadas todas as criaturas humanas deste planeta, enquanto vivas. Não se cogitou de incluir as espécies animais, apesar de também estas terem vida, por que ficou estabelecido que os animais não têm alma. Assim, um gafanhoto ou um rinoceronte têm vida mas não estão sujeitos a qualquer código de conduta, preocupando-se somente com a sobrevivência sua e de sua espécie  Nunca se ouviu falar no “pecado” de um gafanhoto !
 E como os seres humanos tomaram conhecimento dessas normas (ou mandamentos) criadas pela Suprema Divindade, considerando o fato de que na época em que foram editadas não havia imprensa, rádio ou televisão ? Ora, muito simplesmente: foram ditadas pela Divindade a um indivíduo que tinha esse privilégio de escutar deuses, ao que consta no alto de uma montanha, certamente para estar mais perto da Divindade que morava nos céus (pelo menos à época) e assim melhor poder escutá-la. Esse ditado foi transcrito de alguma forma não sabida e convenientemente divulgado para vigorar para todo o sempre, pelo menos entre aqueles que aceitam essa crônica como válida.

Há, porem, uma respeitável quantidade de seres humanos que, aparentemente, não aceitam esses mandamentos, e que frequentemente violam as regras estabelecidas nos mesmos, incorrendo, assim, supostamente, numa situação de “pecado”. Só no Brasil, pelo menos são assassinadas umas trinta ou quarenta pessoas por dia, a despeito de existir um “mandamento” que diz categoricamente: “Não matarás !” Isso sem falar nas guerras que ainda andam por aí, nos atentados, no terrorismo em geral. Somos forçados, nós os terráqueos, a concluir que no que toca a “mandamentos”, “pecados”, “juízo  final” e quejandos, o ser humano e sua alma (se ela existe) , de um modo em geral, não teme mais tanto as judiarias de Satanaz, certamente por “una de três” (como diriam nossos vizinhos uruguáios) razões, a saber:ou não se acredita mais nem em alma nem em Satanaz, ou Satanaz existe mesmo e está usando seu poder para tornar o ser humano cada vez pior, a despeito do que possam pensar os deuses bonzinhos, ou a “vida” está ficando cada vez mais desvalorizada entre todos nós, a ponto de que um molecote de 14 ou 15 anos de idade, sem eira nem beira, ignorante e burro, achar-se no direito de tirar a vida de outrem, geralmente uma pessoa considerada “de bem”, sem hesitar e sem qualquer motivo plausível Ah! Existe uma quarta hipótese: Talvez Satanaz esteja velho demais, com sua conhecida maldade atenuada pelos éons que se passaram, e que passe seu tempo sentado, com uma ou outra alma nos joelhos, contando velhas e gastas histórias que já não atemorizam ninguém, salvo as criancinhas, como as histórias do bicho-papão !

E já que falamos em “vida”, o que é isso ? Parafraseando meu falecido sogro, Dyonélio Machado, eu diria que a vida é um mistério entre duas tragédias. Sim, porque o nascimento é uma tragédia, pois o bebê tem que abandonar o conforto e a tranqüilidade do útero materno, onde não tem preocupações e tudo lhe é fornecido de graça, e invadir, chorando por reconhecer que isso é uma tragédia, um mundo hostil, onde ele percebe pela primeira vez que não é imortal, como poderia pensar. A outra tragédia que limita a vida é a indesejável morte (pelo menos para alguns), que põe um fim no mistério da vida!

Quando começa a “vida” ? Nos seres humanos, ela depende da conjunção de um códico bio-genético masculino com um feminino, em ambiente adequado. O espermatozoide  penetra através das paredes do óvulo e aí ocorre uma reação quimio-biológica que gera a vida dentro do útero da mulher. Mas essa reação, a meu ver, precisa ser acompanhada por uma “centelha” vital que é como um mecanismo de “start” que provoca o desencadear de um processo evolutivo que  faz com que se desenvolvam os órgãos internos da criatura que vão assegurar a continuidade da recém-iniciada “vida”É como se esses órgãos, em desenvolvimento, recebessem um impulso biológico para continuarem funcionando adequadamente até a falha de um dos mais importantes,  como o coração, quando, então, tudo terminaria. É interessante notar que a vida aparentemente começa ANTES de existirem os órgãos vitais do corpo, ou seja, parece que a vida nessa fase inicial independe do funcionamento dos futuros órgãos, que nesses momentos existem apenas em uma provável programação genética.

O ser humano, face a essas e muitas outras interrogações  cosmológicas, tem recorrido a pseudo-soluções místicas, atribuindo a entidades improváveis a solução dos mistérios do universo e da vida, que continuam sendo mistérios. Resta ver.

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