domingo, 15 de julho de 2012

59) As “caixas pretas”

“Caixa Preta”

Quem já leu algo ou ouviu falar sobre acidentes com aviões, certamente já se deparou com a expressão “caixa preta” referindo-se aos gravadores de voz e de dados de vôo que existem nos jatos modernos de transporte de passageiros, cuja finalidade é gravar dados e vozes que podem ajudar na investigação das causas do acidente. Acontece que esses equipamentos não são nem uma caixa, nem da cor preta. Sua cor, por exemplo, em geral é laranja, para facilitar sua localização entre os destroços eventuais da aeronave acidentada. Então porque são esses equipamentos chamados de “caixas pretas”?

Pois a explicação é simples, e eu sou testemunha do errôneo surgimento dessa denominação, que merece, a bem da verdade, ser corrigida. Acontece que a coisa surgiu na escola para pilotos da Pan American, em Miami, USA, quando eu fazia lá um curso. O instrutor, que descrevia ao sistemas de um avião fazendo esquemas com giz num “quadro negro” (pois na época todo quadro era da cor preta), sempre que surgia um sistema elétrico ou hidráulico muito complicado para o entendimento dos pilotos, que não eram mecânicos, e cujo conhecimento para os pilotos bastava que soubessem que o sistema existia, que estivesse localizado neste ou naquele lugar do avião, e que exercesse tal e qual função. Não era necessário perder tempo e complicar as coisas descrevendo o funcionamento interno do mesmo, que nada interessava à função de piloto. Então o professor traçava um quadrado ou retângulo no lugar em que estaria a unidade, e dizia: ”This is a Black Box!”. Era “Black” poque o quadro onde ele riscava a giz era preto, e era “Box” porque quadrado ou retângulo em inglês também se pode chamar de “Box”, e nem sempre, necessariamente, “caixa”!

Essa expressão, aplicada aos gravadores de voz e dados de vôo que eram apresentados aos pilotos, eram também chamados de “Black Boxes” porque não interessava aos pilotos seu funcionamento interno, e não porque pudessem ser “caixas” e muito menos “pretas”. E aí entraram os “tradutore, traditore”, como dizem os italianos, traduzindo a coisa errada e irresponsavelmente. Por favor, não vamos mais chamar esses gravadores de “caixas pretas”, per Baco!

Nenhum comentário:

Postar um comentário