quarta-feira, 4 de julho de 2012

53) Um Curtiss C46 da VARIG “pousa” em Pelotas, RS

Curtiss C-46

Em fins da década dos anos 40, um avião Curtiss C-46 da RG decola de Porto Alegre com destino a Pelotas. Era verão e o tempo estava bom. Quando o avião chegou ao Aeroporto de Pelotas, o piloto fez o devido circuito e entrou na reta final para o pouso normalmente. No entanto, quando chegou à pista “pousou” com o trem de pouso recolhido, “de barriga”, levantando uma grande polvadeira. Ninguém se machucou. Logo que soubemos do acidente em POA, eu, Paulo Dietzold e Ruben Berta partimos num cargueiro para Pelotas, levando algum material de que poderíamos precisar, tal como macacos hidráulicos e ferramentas. Eu e Dietzold naquela época, fazíamos investigações de causas de acidentes, e Ruben Berta foi junto porque  na época se envolvia com todos os detalhes da empresa.

Na chegada em Pelotas, interrogamos a tripulação que ainda lá estava. Os pilotos foram unânimes em declarar que haviam arriado o trem na reta final, conforme o “check” antes do pouso, e que só poderiam atribuir o acontecido a uma falha do sistema do trem de pouso, que recolhera acidentalmente. Face a isso, não havia outra coisa a fazer, de nossa parte, senão erguer o avião para examinar o sistema do trem. O certo teria sido mandar vir de POA mais homens e recursos, para levantar aquele pesado avião do solo e poder abaixar e recolher seu trem. Em vez disso, porem, resolvemos eu e Dietzold tentar o absurdo: levantar o avião nós mesmos! Berta, cuja saúde cardíaca não era boa, ficou por ali, assistindo nosso trabalho, sentado numa poltrona do avião que havíamos removido para que ele repousasse.

Trabalhamos com grande esforço físico, durante o resto do dia e toda a noite seguinte. Colocávamos macacos pequenos debaixo do avião, levantávamos um pouco, calçávamos com madeira, colocávamos um macaco maior, e assim por diante, até que chegássemos a uma altura suficiente para arriar o trem, o que nos obrigou a apoiar o avião em tambores vazios de gasolina e muitos caibros de madeira. Arrastávamos entre os dois aquelas coisas pesadas e as colocávamos debaixo das asas, enquanto Berta dormia sobre a poltrona colocada na pista, ao relento. Nós tínhamos requisitado grossos caibros de madeira, tambores vazios e macacos de vários tamanhos com a Viação Férrea local.

Afinal, exaustos e imundos, após trabalharmos pesado por mais de doze horas, inclusive toda a noite, felizmente sob o luar, contemplamos nosso trabalho num breve descanso, observando aquele grande e pesado avião, com o trem de pouso recolhido, elevado com o esforço inaudito de somente duas pessoas, quando, no clarear do dia, começou a soprar um ventinho que a princípio foi fraco, mas que foi se tornando algo mais forte e preocupante. Pois foi como temíamos: o pesado avião balançou-se sobre os apoios que o sustinham e, para nossa consternação, veio abaixo, voltando à posição em que estivera no dia anterior, com alguns estragos a mais. Ficamos desolados, mas nada mais podíamos fazer, a não ser o que deveríamos ter feito logo de início: mandar vir de POA pessoal a materiais suficientes para a tarefa, o que afinal foi feito com o resultado esperado.

Depois de levantado o avião, constatou-se que o sistema do trem de pouso estava funcionando perfeitamente e que, sem dúvidas, os pilotos tinham esquecido de arriar o trem, a despeito de sua experiência com aviões que tinham trem de pouso escamoteável, e da lista de cheques que se fazia obrigatoriamente na reta final. Coisas da aviação!

Um comentário:

  1. Muito bom pouder ouvir os relatos do que vocês passaram! Meu pai também sempre conta uns quando pedimos!!! Um abraço. Fernanda Penteado

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