terça-feira, 29 de maio de 2012

2) A Marinha pede socorro

2)      A Marinha pede socorro
Super-Constellation PP-VDA - o primeiro adquirido pela VARIG em 1955

Houve época em que eu ia com certa freqüência a algumas cidades dos USA. Foi na época dos aviões Super-Constellation e depois Caravelles e depois Boeing 707. Eu era passageiro, mas meus colegas sempre me convidavam para viajar na cabine de comando, onde eu ocupava um dos assentos de pilotagem e ajudava nas tarefas do vôo e da navegação.

Certa ocasião voávamos a 20.000 pés de altitude, à noite, sobre uma camada de strato-cúmulus, já próximos à costa da Venezuela. Tínhamos decolado de Trujillo (hoje República Dominicana) e íamos em direção a Belém do Para, nossa próxima escala.

Como eu ocupava o posto de Primeiro Oficial, cabia-me fazer as comunicações, e estava na hora de informar nossa posição. O Super-Connie tinha um potente equipamento de rádio que nos permitia falar em viva voz com a estação de rádio da VARIG de Porto Alegre,de onde estivéssemos. Assim, chamei POA, dei-lhes nossa posição, recebi seu OK e logo que terminei a comunicação entrou em meus ouvidos uma forte transmissão  em nossa freqüência:

“Avião da VARIG sobre a costa da Venezuela, aqui a corveta (esqueci o nome da corveta), navegando em mar revolto nas costas da Venezuela, em missão de socorro a náufragos de navio de pesca afundado por estas regiões. Consulto a possibilidade de vocês voarem baixo sobre o mar, para tentar encontrar os náufragos. Câmbio.”

Era um apelo desesperado que nos fazia aquela gente heróica, navegando numa pequena embarcação num mar revolto, tentando salvar pessoas que eles nem conheciam. Mas por mais que desejássemos, não podíamos descer numa região montanhosa, à noite, sem qualquer orientação, com pouco combustível e sujeitando nossos passageiros a riscos que eles certamente não estavam dispostos a correr, atrasando sabe-se lá por quanto tempo aquele vôo regular de linha.

Expliquei ao marujo as razões pelas quais não podíamos cooperar, mas ocorreu-me uma possível solução para o caso: devia estar voando do Rio para Belém outro de nossos aviões, com destino a NYC, que passaria nessa região durante o dia, e que talvez pudesse ajudar, abastecendo em Belém uma quantidade maior de gasolina, que poderia proporcionar algum tempo de vôo sobre o mar, ajudando assim, ainda que tardiamente as buscas da corveta.

Consultado o Comandante do avião que subia, que alias estava na escuta de toda a conversação, obtive sua concordância, que transmiti à corveta com grande satisfação.

Não houve mais qualquer comunicação entre nós, o incidente foi praticamente esquecido, não falei com o Comandante do avião que poderia ter feito buscas, e nunca soube dos destinos nem dos náufragos, nem da corveta e seus marujos. Foi um instante que, para mim, passou com o rápido correr do tempo.

3 comentários:

  1. Voce fez a sua parte...parabens!

    ResponderExcluir
  2. Isso me fez lembrar que, em OCT/1960, com 10 anos de idade, voei num Super G de GIG/BEL/CCS/SDQ/MIA, de 1a. classe, pago pela FAB, pois meu pai iria fazer um curso em Norfolk, pena que não me lembre de mais detalhes, não imaginaria que 7 anos depois já estaria trabalhando na Pioneira!

    ResponderExcluir
  3. Complementando e retificando, o Costellation, era da Real Aerovias, que foi comprada pela RG, mas minha volta, 6 meses depois, foi JFK GIG, nonstop num dos primeiros voos do 707 da RG.

    ResponderExcluir