segunda-feira, 10 de novembro de 2014

77) COMENTÁRIOS QUE ME OCORREM



 Vejamos: hoje é o dia 08 de novembro do ano 20l4, um sábado à noite. Estava vendo televisão (um dos poucos passatempos que tenho, após completar 94 anos de idade). Como acontece muitas vezes com aparelhos como o televisor ou meu computador, subitamente a TV saiu do ar por que eu havia sem querer tocado numa determinada tecla do controle remoto. Tentei várias vezes reestabelecer a imagem para continuar vendo o filme que estava assistindo, apertando seguidamente todas as teclas do controle, porem sem resultado. O aparelho, teimosamente, recusava-se a obedecer meus comandos, que eram certamente errados ou inadequados. Fui obrigado a pedir socorro a meu filho Sérgio, apesar de odiar incomodá-lo. Ele prontamente apareceu e em segundos, apertando miraculosamente umas duas teclas do controle, fez, magicamente, reacender-se a tela da TV e eu pude continuar vendo meu filme.

E qual a razão disso ? Porque eu não apertara as teclas corretas ? Ora, por que eu sou de outra geração ! Eu nasci há quase um século ! Minha formação estava adequada à época da não existência de teclas e botões a serem pressionados. Hoje faz-se tudo com os dedos (daí  falarmos em era digital, já que essa palavra vem do latim “digitus”, que significa “dedo” ?). Mas para pressionar as teclas certas é preciso haver conhecimento - é preciso saber o que se está fazendo. As novas e as novíssimas gerações sabem de tudo, de forma instintiva, porque esse conhecimento é de sua época, como foram outras noções de outras gerações passadas e que com o surgimento de um novo “know-how” tornaram-se obsoletas.

Diz o ditado “ninguém nasce sabendo!”, porem isso também foi atropelado pelo andar dos tempos e a inexorável evolução da mente humana; sim, eu diria que hoje se nasce sabendo; as crianças sabem de tudo que diz respeito à tecnologia atual – ou se não sabem ainda, aprendem muito rapidamente. Minha neta Sandra há pouco recebeu o glorioso título de “Doutora” numa área que é um mistério insondável para mim. Se ela porventura resolver explicar-me de que se trata, será como se eu estivesse ouvindo uma explanação feita por um dos primeiros homens ou mulheres-macacos que teriam dado início à espécie pré-humana “falando” num linguajar feito de grunhidos, precursor dos primeiros idiomas da humanidade. Quer dizer: não entenderia uma só palavra!   

Não que a Sandra fale por grunhidos, por favor! Longe de mim dizer uma coisa dessas!  Ela é muito culta, perfeitamente capaz de expor os fundamentos da tecnologia à qual se dedica, pois tem inclusive atuado como professora emérita do ramo. O problema é comigo! Meus velhos ouvidos, cobertos de teias de aranha hipotéticas, não têm condições de traduzir para meu cérebro conhecimentos que são incompatíveis com minha geração.

Há, ou tem havido, essa diferenciação entre gerações, variando seu volume em função da época,  do nível de conhecimento da humanidade em questão, e do local. Assim, por exemplo, acho que poderia dizer que durante a Idade Média (The Dark Ages), passaram-se muitas gerações sem que houvesse, de uma para a outra, uma grande diferença de conhecimento. Fatores como as guerras, por exemplo, podem contribuir para o desenvolvimento tecnológico de certos grupos humanos. Veja-se como exemplo, o que aconteceu após a segunda guerra mundial, que terminou em l945: houve um grande desenvolvimento tecnológico, científico e industrial, devido em grande parte ao que as partes em conflito haviam descoberto e desenvolvido durante a guerra, forçadas pelas circunstâncias.

E quanto às gerações futuras, que reservarão para a humanidade? Todo dia surgem coisas novas, praticamente indecifráveis para mim. Um simples telefone celular, que afinal não é tão simples assim, se comparado com o que tínhamos quando conheci essa possibilidade de comunicação, em minha adolescência, faz de tudo, só não faz (ainda !) chover, o que talvez esteja reservado para daqui a algumas gerações! Uma coisa que parece estar meio prestes a acontecer, é o comando de ações não mais pressionando-se teclas ou botões, mas talvez por transmissão de pensamento. Acho que não está  longe a época em que pensaremos numa “ordem” qualquer e a coisa se realizará através de alguma “contraption” eletrônica, sem que tenhamos usado as mãos ou os dedos! E se assim vier a acontecer, não será de admirar que a natureza que norteia nosso DNA, ou aquela orientação que faz com que adquiramos, digamos, pés e mãos no útero materno, chegue à conclusão (daqui a milênios, bem entendido) de que não precisaremos mais de dedos para apertar teclas ou botões, ou que só precisaremos de um dedo, para apontar alguma coisa, ou para coçar o nariz. Veremos, não nós, mas alguém que viva num futuro “mui, mui lejano”.

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