No
começo não havia nada. Mas não havia nem o começo, pois não fora criado ainda o
tempo, nem o espaço. Era nada mesmo. Tudo o que havia era o nada, de onde se
chega ao absurdo de dizer que tudo e nada são a mesma coisa! Súbito, em lugar
algum, pois não havia o espaço, e em momento algum, pois não havia o tempo,
surge uma divindade super-poderosa, auto-gerada, pois não havia quem ou como
fazer alguma coisa. Logicamente, para que alguma coisa seja feita, são
necessárias pelo menos três contribuições: imaginação, matéria-prima e
mão-de-obra. Na criação dessa divindade, no entanto, nada disso existia; daí
seu poder de auto-criação, expresso muitíssimo tempo mais tarde, pela
denominação de “Deus”, palavra derivada do grego (Theós) e também do latim
(Dio), significando “um ser todo-poderoso”.
Essa
divindade, que tinha entre mil outras qualidades a capacidade de pensar, viu-se
só, cercada pelo nada e em lugar algum. Chegou à sábia conclusão de que seria
melhor utilizar sua capacidade de criação, sem matéria-prima ou mão-de obra, e
criar um vastíssimo e inimaginável domínio que se chamaria muito mais tarde
UNIVERSO, constituído de um ilimitado espaço sem localização especificada, um
tempo sem princípio nem fim, e pairando dentro desse espaço milhares do que se
chamou galáxias, cada uma com muitas e muitas estrelas e estas cercadas por
planetas. Tudo isso surgiu num piscar de olhos, extraído do nada, pela simples
imaginação da divindade!
Os
gregos antigos, com sua maravilhosa e fértil imaginação mitológica, olhavam
para o céu e viam uma faixa formada por estrelas, como que um caminho celeste.
Tinha uma cor leitosa e assim eles a interpretaram como sendo leite derramado
pela deusa Juno, enquanto amamentava seu filho Hércules. Chamaram a essa faixa
leitosa de GALA, que é “leite” em grego. Daí deriva GALAXIA, como que uma
homenagem que o mundo presta à imaginação, ao espírito observador e à sabedoria
dos velhos gregos.
Constituído
o Universo, a Divindade, após alguns éons, achou que aquilo não estaria
perfeito sem que tivesse um ente capaz de fazer coisas por sua conta, acertando
e errando, o que traria uma certa e benéfica agitação para aquela vastidão meio
sem graça. Tomada essa resolução, a Divindade – ao invés de usar sua enorme
capacidade de criar coisas sem qualquer esforço, sem matéria prima e sem mão de
obra – o que causa um certo espanto, optou por construir, ela mesma, um projeto
de ser humano, feito de barro e que recebeu da mesma um sopro de vida, pois o
barro em si não era suficiente. Esse projeto – um rapagão parecendo ter uns
trinta anos de idade, robusto, bem apessoado, ficou com a capacidade de andar,
mexer-se em geral, sentar-se, comer, defecar, urinar, cuspir, arrotar – enfim
fazer tudo aquilo que nós também fazemos.
Há,
porem, um ponto aí a esclarecer: o primeiro homem precisava alimentar-se todos
os dias. Não se sabe o que ele comia. Tudo o que se escreveu ou falou sobre
esse homem – que por sinal se chamava Adão – não esclarece esse ponto importante:
qual a ração de Adão? Era omnívoro, ou carnívoro ou ainda herbívoro? Nobody
knows !
Estamos
discorrendo sobre o surgimento do primeiro homem baseados nas lendas e
historias produtos das imaginações e crenças religiosas dos povos que habitam
este mundo. Poderíamos penetrar nas teorias Darwinianas para chegarmos à
conclusão de que o homem atual deriva de um pós-símio, que este após muitos
milênios havia sido mesmo um macaco, etc, etc, de tal forma que depois de muito
pesquisar poderíamos constatar que tudo veio de um ser unicelular – o que,
afinal, não teria muita graça e levaria muito tempo, ao passo que o surgimento
de Adão, já prontinho e acabado, é mais interessante e rápido. Além disso,
dificilmente poderíamos chamar uma ameba de Adão, ou Julieta, pois as amebas
não costumam ter nome – salvo, reconheço, se ela tiver nascido em Portugal,
onde certamente não escaparia de chamar-se Maria!
Criado
aquele exemplar da nova espécie, o cognominado Adão, a Suprema Divindade
observou-o por algum tempo, orgulhoso de sua obra como criador, e afinal chegou
à conclusão de que valeria a pena reproduzir aquela espécie, em quantidade, o
que se conheceria muito mais tarde com a denominação de “produção em série”.
Mas como fazer isso? A Divindade, que tudo podia fazer, poderia simplesmente,
num passe de mágica, abarrotar o mundo com tantos Adões quanto sua fantasia bem
entendesse. Mas isso não tinha graça, e acredito que a Divindade já estivesse
“cheia” de tanto criar magicamente! Assim, resolveu fazer a coisa de maneira
mais complicada: criaria outro ser, semelhante a Adão, porem provido de um
mecanismo de reprodução que se completaria com as potencialidades de Adão e,
assim, geraria um outro ser semelhante a ambos, que iria contribuir para o
aumento do “rebanho” dos chamados “seres humanos”. Imaginou então como faria a
coisa: tiraria um pedaço de Adão, para aproveitar as características já
existentes, e dessa amostra criaria o outro ser.
“Dito-e-feito”,
como se diria muito mais tarde: Deitou Adão na relva do Eden, já devidamente
anestesiado com uma pancada na cabeça, e não se sabe por que método, extraiu do
mesmo uma costela, com a qual, com alguns sopros e passes de mágica, criou uma
criatura que se parecia com Adão, mas tinha características especiais: seu
corpo era cheio de belas e suaves curvas, seus cabelos eram compridos,
ondulados e aloirados, seu rosto era perfeito, com olhos levemente oblíquos,
tinha pernas compridas e bem torneadas, duas encantadoras saliências em seu
peito, e entre as coxas, na base do ventre, um encantador e perfeito triângulo
de pelos encaracolados e um pouco mais claros que os da cabeça. Esse ser não
tinha um apêndice pendurado entre as pernas e um pouco à frente, como Adão, que
o usava toda vez que precisava urinar, o que ele achava muito conveniente.
Adão
olhou espantado essa nova figura que aparecia à sua frente misteriosamente.
Quem seria e o que pretenderia? Ele já estava acostumado àquela vida solitária,
e não tinha ideia de como seriam as coisas tendo que conviver com um ser que ele
desconhecia totalmente, tanto mais que ele soube que aquilo era um sub-produto
de uma de suas costelas. Aliás, a criatura não parecia ser feita a partir de um
duro osso, pois aparentemente era suave e macia, sem a dureza da costela.
A
atitude do novo habitante do Eden era de entendimento com Adão. Parecia que
esse ser desejava comunicar-se com o Primeiro Homem, porem ambos ignoravam como
fazê-lo. O novo ser, que afinal foi apelidado de EVA, ou Primeira Mulher, se
usarmos uma terminologia bem mais moderna, parecia ser muito mais esperta do
que Adão, e por essa razão foi a primeira a deduzir que para aquela finalidade
de entendimento o mais indicado seria a produção de um som à guisa de saudação,
pois isso seria ameno e certamente bem recebido. Assim, num grande esforço
físico e de concentração, a menina Eva conseguiu expelir ar através de sua
garganta e, com o auxílio da língua e dos lábios, produzir o que podemos chamar
de Primeiro Discurso da Humanidade, pois ninguém até então o fizera, tendo
sido, portanto, Eva a inventora do falar.
O
discurso de Eva dirigido a Adão, feito não se sabe porque em português, um
idioma desconhecido, foi: -Oi!!, acompanhado de um belo sorriso que teria sido
também a invenção do sorriso.
Adão
estava preocupado com a conveniência e necessidade de responder à saudação de
Eva, pois não ficaria bem receber aquele sorriso e aquela bela fala, sem dizer
nada, como se fosse indiferente, o que ele não era. Assim sendo, empenhou-se
num auto-“ground-school” sobre a maneira de articular sons. Ele observara que
Eva fizera trejeitos com a boca, os olhos e as mãos, o que parecia uma
preparação para o falar. Começou então a executar certos exercícios que talvez
conduzissem à produção de sons: agitou os lábios, comprimiu a barriga e conseguiu
algo que não passou de um arroto! Experimentou então espremer-se como se fosse
evacuar, mas só conseguiu um ruído inexpressivo com seu traseiro. A Divindade,
que estava por ali “de-ôlho” no comportamento de sua criatura, resolveu dar uma
ajudasinha naquele esforço que fazia Adão para falar, sem qualquer resultado.
Usando de seus poderes mágicos, a Divindade fez surgir um pouco atrás de Adão,
uma perna humana com um pé calçando uma botina dessas de soldados que, num
súbito e inesperado movimento, acertou a bunda de Adão com um razoável pontapé.
Este, entre surpreso e atemorizado, pois era a primeira vez no mundo que alguém
recebia tal golpe, reagiu dando um pulo para frente e exclamando alto e bom
som, um grito de “ÁI...!”, que foi, afinal sua entrada no domínio das palavras,
ainda que um tanto forçado.
Muito
satisfeito com esse resultado, a despeito da dor na bunda, Adão preparou-se
para saudar Eva com a mesma palavra em português que ela usara, porem, tal vez,
um pouco maior, ou seja, um palavrão, que ele esperava que entrasse pelas belas
orelhas de Eva, pois já percebera, ao ouvir o “Oi” de Eva, esse som entrara por
suas orelha a dentro, pelo que pôde perceber que esses equipamentos de seu
corpo – as orelhas – não serviam só para pendurar brincos, como pensara.
E
assim foi feito, e Adão gostou muito de Eva, pois a mesma agradava aos sentidos
do mesmo, cumprindo dessa forma a predestinação reservada àquela dupla do que
se chamou mais tarde de “mamíferos”, na categoria de humanos. A natureza poderia
ter estabelecido para esses mamíferos um método de reprodução da espécie
semelhante ao que destinara às aves, por meio de ovos que gerariam o novo ser
fora do corpo paterno ou materno, e sem os inconvenientes da gravidez, mas não
o fez, por bem ou por mal.
Al
fin y al cabo, por aca nos quedamos. Saludos !
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