Vejamos:
hoje é o dia 08 de novembro do ano 20l4, um sábado à noite. Estava vendo
televisão (um dos poucos passatempos que tenho, após completar 94 anos de
idade). Como acontece muitas vezes com aparelhos como o televisor ou meu
computador, subitamente a TV saiu do ar por que eu havia sem querer tocado numa
determinada tecla do controle remoto. Tentei várias vezes reestabelecer a
imagem para continuar vendo o filme que estava assistindo, apertando
seguidamente todas as teclas do controle, porem sem resultado. O aparelho,
teimosamente, recusava-se a obedecer meus comandos, que eram certamente errados
ou inadequados. Fui obrigado a pedir socorro a meu filho Sérgio, apesar de
odiar incomodá-lo. Ele prontamente apareceu e em segundos, apertando
miraculosamente umas duas teclas do controle, fez, magicamente, reacender-se a
tela da TV e eu pude continuar vendo meu filme.
E
qual a razão disso ? Porque eu não apertara as teclas corretas ? Ora, por que
eu sou de outra geração ! Eu nasci há quase um século ! Minha formação estava
adequada à época da não existência de teclas e botões a serem pressionados.
Hoje faz-se tudo com os dedos (daí
falarmos em era digital, já que essa palavra vem do latim “digitus”, que
significa “dedo” ?). Mas para pressionar as teclas certas é preciso haver
conhecimento - é preciso saber o que se está fazendo. As novas e as
novíssimas gerações sabem de tudo, de forma instintiva, porque esse
conhecimento é de sua época, como foram outras noções de outras gerações
passadas e que com o surgimento de um novo “know-how” tornaram-se obsoletas.
Diz
o ditado “ninguém nasce sabendo!”, porem isso também foi atropelado pelo andar
dos tempos e a inexorável evolução da mente humana; sim, eu diria que hoje se
nasce sabendo; as crianças sabem de tudo que diz respeito à tecnologia atual –
ou se não sabem ainda, aprendem muito rapidamente. Minha neta Sandra há pouco
recebeu o glorioso título de “Doutora” numa área que é um mistério insondável
para mim. Se ela porventura resolver explicar-me de que se trata, será como se
eu estivesse ouvindo uma explanação feita por um dos primeiros homens ou
mulheres-macacos que teriam dado início à espécie pré-humana “falando” num
linguajar feito de grunhidos, precursor dos primeiros idiomas da humanidade.
Quer dizer: não entenderia uma só palavra!
Não
que a Sandra fale por grunhidos, por favor! Longe de mim dizer uma coisa
dessas! Ela é muito culta, perfeitamente
capaz de expor os fundamentos da tecnologia à qual se dedica, pois tem
inclusive atuado como professora emérita do ramo. O problema é comigo! Meus
velhos ouvidos, cobertos de teias de aranha hipotéticas, não têm condições de
traduzir para meu cérebro conhecimentos que são incompatíveis com minha
geração.
Há,
ou tem havido, essa diferenciação entre gerações, variando seu volume em função
da época, do nível de conhecimento da
humanidade em questão, e do local. Assim, por exemplo, acho que poderia dizer
que durante a Idade Média (The Dark Ages), passaram-se muitas gerações sem que
houvesse, de uma para a outra, uma grande diferença de conhecimento. Fatores
como as guerras, por exemplo, podem contribuir para o desenvolvimento
tecnológico de certos grupos humanos. Veja-se como exemplo, o que aconteceu
após a segunda guerra mundial, que terminou em l945: houve um grande
desenvolvimento tecnológico, científico e industrial, devido em grande parte ao
que as partes em conflito haviam descoberto e desenvolvido durante a guerra,
forçadas pelas circunstâncias.
E
quanto às gerações futuras, que reservarão para a humanidade? Todo dia surgem
coisas novas, praticamente indecifráveis para mim. Um simples telefone celular,
que afinal não é tão simples assim, se comparado com o que tínhamos quando
conheci essa possibilidade de comunicação, em minha adolescência, faz de
tudo, só não faz (ainda !) chover, o que talvez esteja reservado para daqui a
algumas gerações! Uma coisa que parece estar meio prestes a acontecer, é o
comando de ações não mais pressionando-se teclas ou botões, mas talvez por
transmissão de pensamento. Acho que não está
longe a época em que pensaremos numa “ordem” qualquer e a coisa se
realizará através de alguma “contraption” eletrônica, sem que tenhamos usado as
mãos ou os dedos! E se assim vier a acontecer, não será de admirar que a
natureza que norteia nosso DNA, ou aquela orientação que faz com que
adquiramos, digamos, pés e mãos no útero materno, chegue à conclusão (daqui a milênios, bem entendido)
de que não precisaremos mais de dedos para apertar teclas ou botões, ou que só
precisaremos de um dedo, para apontar alguma coisa, ou para coçar o nariz.
Veremos, não nós, mas alguém que viva num futuro “mui, mui lejano”.
Vô, obrigada pelos elogios, apesar de exagerados, hehe.
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